Da Redação – Afinal por que tantos barcos participantes da Transat Jacques Vabre quebraram e alguns ainda estão enfrentando sérios dilemas em alto mar. Regata News buscou dois especialista no esporte náutico e em barcos em Portugal. O nosso colunista – jornalista Rodrigo Moreira Rato e experiente Renato Conde. Dois portugueses que conhece tudo de barco. Curta sua opiniões.
Post:8/11-20:56
Regata News – Especial: Renato Conde e Rodrigo Moreira Rato avaliam os quebra-quebras de barcos na Transat Jaques Vabre
Muito se tem falado sobre o “elevado” numero de abandonos que tem havido nesta edição da Transat Jacques Vabre, inclusive alguém mal informado pode pensar que é um complot contra Itajaí, mas vamos por partes:
Como toda a gente sabe esta altura do ano é muito dura no Atlântico Norte , especialmente nas Ilhas Britânicas, Bretanha, Golfo da Biscaia e costa norte de Espanha e de Portugal, este ano a meteorologia não fugiu à regra e o que de anormal sucedeu foi a longa duração dos temporais, a frota levou com muito más condições desde a largada até ao sul de Portugal. Como costuma dizer o meu amigo Paul Bayard, é sempre fácil falar quem está em casa!
A grande novidade desta edição da Transat Jacques Vabre são os novos IMOCA60 com foils, projectados para a Vendée Globe e que têm na Jacques Vabre o seu primeiro teste a serio, estes barcos são completamente novos no conceito, arquitectura e construção, e muitos deles não tiveram tempo de testes de mar suficientes como se veio a provar, além disso provavelmente foram levados ao limite em termos de concepção.
Os restantes abandonos estão em linha com as outras Transat onde se verificam condições muito duras nos primeiros dias, como exemplo temos a razia que foi também na Mini Transat deste ano, tanto nos protótipos como nos barcos de serie.
Para os menos informados, a Transat Jacques Vabre é a grande competição oceânica de 2015, sendo fundamental para testar velejadores, barcos e novas soluções tecnológicas, que venham a ser aplicadas na Vendée Globe, o Santo Gral da vela oceânica, posto isto, espero que os meus amigos no Brasil, e em Itajaí em particular, percebam que nada há contra a espectacular forma como têm acolhido estes eventos náuticos, mas apenas um conjunto de azares!
Mas muito melhor do que eu, e provavelmente do que quase todos nós, é sabermos o que pensa o Renato Conde dos estaleiros portugueses Delmar Conde, ele sim um verdadeiro expert em construção naval (TP52, X-40, GC32, VO60, VO70, Maxis, etc…), recentemente esteve em Itajaí durante a VOR.
“Sobre os barcos, eu concordo que as condições encontradas pela maior parte da frota foram duras e difíceis….Claro que para quem esta em terra, as coisas são sempre mais fáceis….
Estou bastante dentro dos parâmetros das construções usadas actualmente, e o facto é que o “limite” chegou antes do esperado!!
Nas construções “normais”, usadas nos VO65, TP52, Maxis, etc… a construção é baseada em Sandwich de Nomex, ou PVC de alta densidade, ou seja, Carbono no exterior, Nomex ou PVC e Carbono no interior.
Neste processo, as áreas onde cada um destes materiais é usado depende da zona de esforço, impacto e torção.
No novo processo de construção, usado nestes novos IMOCA60, como em todos os novos projectos a necessidade de redução de peso é constante mas “mentirosa”, digo isto porque nos cálculos e nos testes de horas que são feitos, tudo parece funcionar bem, mas em regata tudo é puxado acima dos 100% , e a margem de “segurança” é cada vez menor, por isso os acidentes estão à vista.
Nestes barcos/projectos, foram incluídos os foils, cada foil pode pesar cerca de 100kg, mais os reforços necessários na estrutura e no casco, para as toneladas de força que estes foils exercem quando em funcionamento, a construção foi revista e alterada para que este novos barcos saiam com um peso final semelhante aos existentes, isto fez com que a Sandwich, desaparecesse e desse lugar a um casco monolítico ( ausência de espuma, ou outro material entre camadas de carbono), e no interior fossem reforçados com varias “barras/ longarinas” de carbono, muito próximas umas das outras para “garantir” o aumento da resistência.
Está visto que foi um fracasso, durante a paragem da VOR em Lorient falei com muita gente, e percebi que era impossível um IMOCA60 pronto a navegar rondar os 6300kg, dar a volta ao mundo em total segurança com a performance pretendida. Um VO65 pesa 12000kg e tem a mesma area vélica, mas, as diferenças foram notórias, pois não houve danos estruturais em nenhum barco ( a não ser que encontrem rochas ou corais no meio do oceano!!! ).”
Um grande abraço deste lado do Atlântico,
Renato e Rodrigo