Escrevo nesta manhã ao som do jazz/saxofone, pensando e revirando alguns conteúdos da memória, vagas lembranças de tempos idos, como se estivesse mergulhado no passado. Porém, não é bem assim, gosto dos temas de futuro e sei que a minha trajetória de educador e de assessor contribuiu para abertura de caminhos.
Sempre esteve claro e presente no meu pensamento a necessidade de atitudes diante do futuro, esse eterno descortinar-se em nós, pois, sabemos que o “tempo não para”.
Aprendemos na mais tenra idade que “o Brasil é um país de futuro”, pois tudo o que se faz, fala e pensa nos empurra para o futuro, dentro da problemática da “construção”, pois, uma antiga canção nos dizia “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
O que se denomina práxis sempre me atraiu como tema de estudo e conhecimento; sempre me debrucei na perspectiva da ação, apesar de muitas vezes me achar abstrato e pensativo demais, pois, de fato, são tão tênues os limites entre filosofia e poesia.
Eu gostava de andar pelo centro da cidade do Rio de janeiro, muito movimento de pessoas e veículos, barulho, poluição apreciando a arquitetura, prédios pós-modernos e casarões antigos do século XIX.
Andando pelo centro da cidade, sem rumo preestabelecido, meio perdido e, ao mesmo tempo, sabia dos contornos urbanos maiores, reais e palpáveis, a Central do Brasil, a Igreja da Candelária, o Museu de Arte Moderna e os Arcos da Lapa, as avenidas Presidente Vargas, Rio Branco e o Aeroporto Santos Dumont.
Andava muito e sempre parava nos sebos ou nas bibliotecas: o Real Gabinete de Leitura, Biblioteca Nacional, a bela Biblioteca do Ministério da Fazenda, ali, na avenida Antônio Carlos, no Castelo.
No outro lado da rua, o ponto final dos ônibus para a Ilha do Governador, Galeão e meu destino final, a Ilha do Fundão, a mágica Cidade Universitária. Eu morava no Alojamento dos Estudantes da UFRJ, e ali eu pensava o futuro. A construção da ponte Rio-Niterói, uma estrutura gigante, crescendo sempre, operários, engenheiros, cimento e concreto armado e o justo equilíbrio das estruturas, pois ali eu pensava no poder da Isostática, disciplina do Básico.
O futuro sempre esteve presente e gostava de imaginar os sistemas futuros e, tal como o Tomas Morus, o sábio inglês, canonizado, eu pensava a minha Utopia, já acreditando, naquele tempo (1973) que chegaria vivo, inteiro e lúcido no século XXI.
Quando eu ia para a Zona Sul, os ônibus voavam pelo Aterro do Flamengo, atravessavam os túneis e eu chegava radiante e feliz, em Copacabana, a “Princesinha do Mar”. Porém, o destino final era Ipanema, a aristocrática avenida Vieira Souto, onde dava aulas particulares de Matemática e Física, deslumbrado como se eu fosse um jovem Galileu ou o pensativo Blaise Pascal, coisa normal para um estudante de Engenharia.
A leitura do Jornal do Brasil me fazia bem, lia os editoriais, gostava da elegância daquelas linhas, me sentia moderno e articulado com o futuro nacional, pois somos “gigantes pela própria natureza”.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores