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A mais radical e extrema de todas as maratonas oceânicas começa hoje, em França. Uma volta ao mundo, um velejador só por barco, sem paragens nem assistência.
Começa hoje em Les Sables d”Olonne, na baía da Biscaia, costa atlântica francesa, a mais insana de todas as regatas oceânicas. Ocorre de quatro em quatro anos e exige dos velejadores o que nenhuma outra competição no mundo da vela exige.
Pelas 11.00 da manhã, 29 homens cruzarão a linha de partida para uma volta ao mundo. Cada um só no seu barco (monocascos de 18,28 metros). Todos sabendo que a prova tem duas regras sagradas: não parar em lado nenhum (quanto muito podem regressar à partida para reparações e voltar a partir); e não serem de forma alguma assistidos a partir do exterior. Mais do que uma competição, é uma epopeia. Dos 138 velejadores que já tentaram fazer a prova, só 71 terminaram.
A Vendée Globe – assim se chama a prova – fascina amantes da vela no mundo inteiro, em particular em França. Por estes dias, a marina onde os 29 barcos estão estacionados tem sido visitada por centenas de mihares de pessoas, numa romaria incessante.
O que provoca este entusiasmo é do domínio do misterioso. O que se tem passado até agora para merecer a visita de tantas pessoas? Nada. Os barcos lá estão, parados. Às vezes é possível uma selfie com os skippers. A prova é francesa, os media franceses dão-lhe grande destaque e todas as sete edições que já decorreram (a primeira foi em 89/90) foram vencidas por velejadores franceses. Dos 29 marinheiros que hoje partirão – um recorde na história da prova – vinte são franceses. O mais velho, Rich Wilson, norte-americano, tem 65 anos; o mais novo, Alan Roura, suiço , apenas 23. Já houve mulheres a competir (a melhor classificada foi, em 2000/2001, a britânica Ellen Macarthur, que ficou em segundo lugar) mas desta vez nenhuma avançou.
Um único homem conseguiu vencer duas vezes: Michel Desjoyeaux. É um lobo solitário do alto mar e na última Volvo Ocean Race (outra volta ao mundo, mas esta com várias paragens e tripulações) integrou na primeira etapa, entre Alicante (Espanha) e a Cidade do Cabo (África do Sul), a tripulação de nove homens de uma equipa espanhola, o Team Mapfre. As coisas não correram bem. O barco foi o último a chegar à Cidade do Cabo. Desjoyeaux não voltaria a embarcar.
Este ano há uma novidade nos barcos que pode revolucionar a vela oceânica em monocasco: os chamados foils. São dois patilhões colocados lateralmente nos veleiros, num formato que faz lembrar o bigode de Salvador Dali. Com condições favoráveis, fazem o casco içar-se da água, perdendo atrito e com isso ganhando velocidade. Literalmente, os veleiros planam, e podem atingir velocidades na ordem dos 30 nós. A revolução começou em 2013 nos multicascos que disputaram a Taça América (a Fórmula 1 da vela) mas agora estende-se a monocascos para uma volta ao mundo sem paragens nem assistência. Dos 29 barcos concorrentes, seis estão equipados com foils. Caso esta solução técnica vença, então todas as outras maratonas oceânicas – a mais conhecida das quais é a Volvo Ocean Race – tenderão a imitá-la.
Mas essa é a grande dúvida. Um veleiro que quase literalmente voa torna-se bastante mais difícil de controlar do que um convencional. A tensão a que estarão sujeitos os materiais (velas, cascos, patilhões, leme) aumentará brutalmente, sendo portanto mais natural que surjam avarias. Além do mais, esta é uma regata que se percorre em grande parte nos furiosos mares do sul. E há outra coisa com os que velejadores dos barcos convencionais também contam: o esgotamento físico dos concorrentes dos barcos voadores. Controlar um barco destes exige muito mais músculo do que nos outros. Necessariamente terão de levantar o pé do acelerador.
O recorde da prova foi estabelecido na última edição (2012-13) por François Gabart: 78 dias, 2h e 16m. Se os foils vencerem, espera-se que essa marca seja batida por três ou quatro dias. Se assim for, tudo mudará. Até lá, dias e dias no mar a dormir 20 minutos de quatro em quatro horas e enfrentando sós a natureza mais extrema.
O David Beckham dos mares
A Vendée Globe é uma prova de franceses – e por isso os britânicos não descansam enquanto não a vencerem. O principal pivot desse esforço é Alex Thomson, uma superestrela da vela a quem o patrocínio milionário da Hugo Boss obriga a uma pose que faz lembrar David Beckham e a proezas acrobáticas com propagação viral na net como a famosa caminhada no mastro. Na última edição ficou em 3º.
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