Painel Dois Pontos Retrospectando The Ocean Race : Paulo Bornhausen foi o grande articulador para Santa Catarina sediar Regata The Ocean Race

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Bem vindo a bordo! Na  primeira edição do  “Painel Dois Pontos Retrospectando The Ocean Race  – 1 de abril de 2010: Itajaí será a parada na América do Sul da Volvo Ocean Race 2011/2012”,  postado no dia 31- vários leitores fizeram mesma pergunta :  onde surgiu esta ideia de trazer uma regata de porte mundial para uma cidade que não promove nenhuma regata grande.

Quem relata é o ex-deputado Paulo  Bornhausen – em 2010 era Secretário do Desenvolvimento Sustentável do Governo de Santa Catarina, entrevistado em 2012 pelo Regata News.

Paulo Bornhausen –

Tudo aconteceu por mera casualidade,  relata Paulo   nesta entrevista exclusiva é o padrinho da The Ocean Race. Paulo mora em Florianópolis e a  Família Carabelli também tem apartamento na Ilha onde fica quando está no Brasil

Dione e Horácio -Foto Arquivo de Familia

Paulo Bornhausen – Somos amigos de família dos Carabelli e encontrei a Dione (Esposa do Horácio Carabelli)  que me relatou estar triste em ter que se mudar para Espanha em função do comprometimento profissional do seu marido com a VOR.

Naquele momento, ela me fez um desafio de trazermos o evento para Santa Catarina e talvez construir um novo barco brasileiro para participar da competição.  Comprei a ideia e imediatamente liguei ao governador Luís Henrique da Silveira  que autorizou.

 

Regata News –  Como surgiu a possibilidade de Santa Catarina sediar um evento de porte mundial como a Volvo Ocean Race?

Paulo Bornhausen -Alguns fatores abriram a oportunidade para a Volvo Ocean Race ter uma parada em Santa Catarina.

 Até então, o Rio de Janeiro era a cidade sede da competição no Brasil. Com a aproximação da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, a Volvo Ocean Race se tornaria mais um evento no calendário carioca.

 Na visão dos organizadores, isso não estava a altura da maior regata volta ao mundo. Além disso, a reforma na Marina da Glória, que receberia as embarcações, não ficaria pronta a tempo.

A equipe da regata começou a busca por uma nova sede na América do Sul. Várias cidades foram procuradas: Montevidéu, Buenos Aires, Angra dos Reis, Salvador, São Sebastião – em São Paulo.

Em Santa Catarina, Florianópolis foi a primeira cidade sondada, mas o projeto não foi adiante. Tínhamos ficado de fora da Copa, mas com muita determinação de mostrar que Santa Catarina teria capacidade de realização de um evento esportivo de magnitude internacional.

 O Governador Luís Henrique da Silveira comprou a ideia e garantiu o apoio do estado para realizar o evento. Então, na continuidade, surgiu a oportunidade de trazer o evento para Itajaí. Quando levei a ideia ao(ex) prefeito Jandir Bellini, ele pensou que fosse loucura, mas abraçou o projeto e fomos adiante.

Prefeito Jandir Belini,CEO da The Ocean Race Knut Frostrad e Paulo Bornhausen – Foto Nelson Robledo

Regata News – Casal Carabelli teve uma significativa participação neste processo?

Paulo -Total. Sou amigo da Dione, e por extensão do Horácio há muitos anos. Nossos filhos Gabriel e Bruno estudaram juntos e são grandes amigos também.

Num desses eventos esportivos do colégio que estudavam, encontrei a Dione que me relatou estar triste em ter que se mudar para Espanha em função do comprometimento profissional do seu marido com a VOR.

Naquele momento, me fez um desafio de trazermos o evento para SC e talvez construir um novo barco brasileiro para participar da competição.  Comprei a ideia e imediatamente liguei ao Governador Luís Henrique da Silveira  que autorizou iniciarmos as tratativas em nome do governo catarinense e designou o competente Secretário Alexandre Fernandes para executar a tarefa em seu nome. Dione é a madrinha da parada em Itajai. E Luís Henrique o padrinho.

Primeiro veio a coragem do prefeito Jandir Bellini em topar o desafio. Ele nunca tinha ouvido falar da Volvo Ocean Race. O tamanho do evento e o desafio de assumir tal compromisso assustou”

 

Regata News -Esperava o sucesso que se cedeu ?

Paulo-Quem acompanhou os preparativos de perto – como eu, representando o Governo de Santa Catarina, agora já em nome do governador Raimundo Colombo –, viu o envolvimento da cidade e da região, o apoio de entidades municipais, regionais e do governo do Estado e teve a certeza de que Itajaí não ia fazer feio mesmo durante os preparativos. Mas a cidade se superou, foi além das expectativas, e apresentou uma das melhores paradas de todos os tempos da regata, isso atestado pelos próprios organizadores internacionais.

 

Regata News -Legados que Volvo Ocean Race deixou para Itajaí e Santa Catarina?

Paulo-A própria experiência de organizar um evento internacional do porte da Volvo Ocean Race, inédito no Estado, foi um grande legado.

Antes das Olimpíadas, antes da Copa do Mundo, num tempo muito curto de pouco mais de um ano de preparativos, Itajaí e Santa Catarina mostraram ao mundo que estavam aptas a receber eventos internacionais de grande monta e isso é fundamental na atração de outros eventos deste porte para o estado.

 Que trazem agregado o olhar do mundo para Santa Catarina, que trazem investimentos para cá, turistas, esportistas. Hoje, depois do sucesso da etapa catarinense da Volvo Ocean Race, somos conhecidos na Europa, no Oriente Médio, na China, e nas demais regiões em que a regata passou.

 Nossa expertise em eventos de ponta ficou notória. E isso é um legado valioso que vai além do próprio sucesso local e nacional do evento no tempo em que ele ocorreu por aqui.

 

Regata News –  -Volvo Ocean Race aconteceria sem a presença do engenheiro Amílcar Gazaniga?

Paulo-Primeiro veio a coragem do prefeito Jandir Bellini em topar o desafio. Ele nunca tinha ouvido falar da Volvo Ocean Race. O tamanho do evento e o desafio de assumir tal compromisso assustou.

O desconhecido nos assusta, e, político experiente que é, Jandir conhece as dificuldades do serviço público na organização de um evento desse porte em tempo curto.

Mas, depois que se convenceu de que a empreitada traria um ganho extraordinário para a cidade e para o estado, topou e indicou o Amílcar para chefiar a equipe que organizaria o evento por aqui.

E a escolha não poderia ser mais acertada. Amílcar Gazaniga é um gestor experiente e arrojado como há muito poucos no Brasil. Sua capacidade de planejamento e de gestão são enormes e ele soube agregar as pessoas certas, no tempo certo e envolver toda a comunidade no projeto.

Amílcar vai do macro aos detalhes sem deixar escapar nada e, por certo, muito do sucesso da Volvo Ocean Race em Itajaí está associado ao trabalho que desenvolveu com o grupo que formou, onde se destaca o competente Eng João Luis Demantova, e com o apoio incondicional do prefeito Jandir Bellini, sem o qual não seria possível esse sucesso todo.

Ex-Prefeito Jandir Bellini e Paulo Bornhausen / Foto: Nelson Robledo

Regata News -Futuro de Itajaí dentro desta ótica náutica

Paulo -Já está aí, aliás. Temos a Transat Jacques Vabre este ano(2013) – mais uma regata transoceânica chegando na cidade(2014). Temos estaleiros de diversos portes e segmentos em atividade ou se instalando na cidade e região.

 Temos o projeto da Marina de Itajaí – um sonho de décadas –, sendo construída. A Volvo Ocean Race, de muitas formas, voltou o olhar da cidade para sua natural vocação marítima e atraiu investimentos do setor, e de outros setores de alto valor agregado, para a região. O futuro é promissor.

Como gosta de dizer o prefeito Jandir Bellini utilizando-se do slogan dos 150 anos da cidade, ocorrido em 2010: “Itajaí: o futuro está aqui”. E, com certeza, é um futuro que inclui a vocação marítima de Itajaí e sua ligação com o mundo.

 

Regata News -A empresa italiana Azimut Benetti e agora regata Jacques Vabre veio para Itajaí devido ao sucesso de um evento internacional?

Paulo -Com certeza esse foi um dos fatores que atraíram estes e muitos outros investimentos e eventos para a cidade e região.

A regata abriu uma janela para que empresários de todo o mundo conheçam os potenciais de Itajaí e da região.

Temos aqui excelentes estaleiros, vocação náutica histórica, povo trabalhador e, de quebra, a cidade está localizada é uma das mais bela região do litoral sul do Brasil.

Itajaí mostrou garra e superação, vencendo grandes, mostrando ao mundo, uma grande competência. Isso tudo pesa em decisões de investidores.

A experiência e os equipamentos que ficaram para a cidade nos permitirão receber eventos de porte internacional, como a Transat e a próxima edição da própria Volvo Ocean Race.

 

Paulo Bornhausen – Foto Adilson Pacheco

Regata News -O que faltou para ser melhor?

Paulo -Difícil dizer. Sob todos os aspectos tivemos muito perto da perfeição naqueles dias em que a Volvo Ocean Race esteve em Itajaí. Até o tempo ajudou. E as pessoas, o povo de Itajaí e os turistas que chegaram na cidade, todos ficaram encantados com o evento. Todos ficaram meio boquiabertos.

 

Regata News – Seu maior medo?

Paulo  –O medo é sempre não dar conta do desafio. Mas, se não há desafios, como vamos testar nossas imensas possibilidades? Acho que o medo não deve fazer parte dessa conta. Como o Santo Expedito, gosto das causas difíceis.

 

Regata News – Quantas empresas passaram a ter interesse por Itajaí e Santa Catarina provocado pelo sucesso da Volvo Ocean Race?

Paulo -Não há dúvidas de que a Volvo Ocean Race impactou positivamente o portfólio de Santa Catarina. Muitas empresas estão interessadas em Itajaí e no estado.

Muitas já chegaram e estão se instalando, muitas ainda estão querendo vir.

O governo Raimundo Colombo está aprimorando um modelo de desenvolvimento que coloca Santa Catarina no radar dos grandes investimentos do Brasil e do mundo.

Pela capacidade de nossa gente trabalhadora e acolhedora, pela nossa tradição empreendedora, e, agora, pela inovação que estamos buscando com projetos e investimentos de sucesso.

A Volvo Ocean Race foi um desses estandartes que erguemos e que atrai olhares do mundo todo.

Ex-Prefeito Jandir Bellini e então Secretário de Estado Paulo Bornhausen – Foto Nelson Robledo

Regata News  – Florianópolis como opção?

Paulo -Florianópolis foi a primeira opção, por ser Capital do estado e ter grande tradição na vela nacional e mundial. Mas por sorte de Itajai, não acordou a tempo para a importância do evento.  Itajaí teve resposta política imediata e sabedoria de agregar pessoas e condições. Nesse tipo de eventos, com um caderno de encargos exigente, a negociação faz parte do jogo. Concessões são feitas de ambas as partes. É o procedimento normal.

 

Regata News – Volvo Ocean Race 2014/2015

Paulo – Itajaí já está escolhida para sediar as duas próximas etapas da Volvo Ocean Race e por méritos próprios. O desafio agora é buscar parcerias para colocar um barco brasileiro na disputa. Este é um objetivo a ser perseguido.

 

Regata News -Evento que envolva mais o potencial econômico e turístico de Santa Catarina?

 

Paulo -A Transat Jacques Vabre é o primeiro deles, efeito direto do sucesso da Volvo Ocean Race. Tenho certeza que outros virão, agora que demonstramos nossa habilidade na organização de eventos desse porte.

 

Regata News – Potencial turístico.

Paulo-A tendência é que o evento ganhe outra dimensão a cada nova etapa, agregando conhecimento adquirido e novas ideias. Aprendemos muito na edição de 2012 e teremos a oportunidade de fazer melhor na próxima edição. Garantir mais visibilidade para Santa Catarina é um dos desafios que teremos pela frente e estou certo que iremos superá-lo com maestria.

 

Regata News –   Visibilidade de Santa Catarina

Paulo- O meio náutico é um meio que envolve empresários e investidores de diversos setores da economia mundial. A informação que circula neste meio chega aos demais segmentos. As pessoas transitam por diferentes setores. Portanto, não há dúvidas de que a visibilidade do estado de Santa Catarina foi bem além do meio esportivo e do meio náutico.

 

CEO da The Ocean Race Knut Frostrad e Paulo Bornhausen – Foto Adilson Pacheco

Regata News –  -Investimento na regata 2011/2012 e quanto gerou na economia regional e estadual.

Paulo -O governo do Estado investiu cerca de R$ 6 milhões. A prefeitura, outros R$ 6 milhões. Juntos, os investimentos do governo do Estado e do município representaram 70% do que foi aportado para a realização do evento.

 Já o retorno econômico obtido foi muito superior a isso: quase R$ 44 milhões em Santa Catarina e outro R$ 3 milhões em outras regiões Brasil. E foram criados mais de 1200 empregos. Os números de impacto econômico foram auditados pela PricewaterhouseCoopers – uma consultoria reconhecida internacionalmente, e reforçam o sucesso da Volvo Ocean Race em Itajaí.

O investimento que será preciso para a próxima edição dependerá das decisões que serão tomadas mais adiante.

 

Regata News –  -veículos de comunicação em todo mundo editaram material

Paulo -A Volvo Ocean Race dá um retorno de mídia muito grande. Itajaí teve mais de 4 mil registros pela imprensa nacional e internacional, entre novembro de 2011, quando foi dada a largada à competição, até junho de 2012, na parada final. Seria preciso investir mais de R$ 80 milhões na mídia nacional para termos o retorno que tivemos nacionalmente. Na cobertura do stopover foram credenciados 263 jornalistas.

Regata News –  Grande sonho dentro da Volvo Ocean Race

Paulo -Novamente, a participação de um barco brasileiro na competição, só que dessa vez com bandeira catarinense.  Somos um celeiro de bons velejadores e poderíamos ter muitos deles nessa competição. Chegaremos lá.