*Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Aproveito a noite chuvosa para escrever. O dia transcorreu normal com muita leitura, imersão em textos variados, um salutar exercício intelectual, muita chuva e bons pensamentos.
Não há pressa para perseguir um tema, muita coisa me vem à cabeça e não me preocupo com o direcionamento do artigo, pois, sabemos que a temática brota quando menos se espera.
Sempre gostei de escrever, tendo uma caneta ou lápis e um pedaço de papel em branco, anotava alguma ideia, pequenos textos descompromissados, desinteressados, ainda que quase sempre registrasse a data, e, às vezes, o horário da produção daqueles ínfimos rabiscos.
Sempre assisti muitos filmes, bem antes da minha vida no Rio de Janeiro, e, confesso que o cinema fez a minha cabeça, principalmente os filmes mais intelectualizados, com um forte conteúdo filosófico.
Gostava do neorrealismo italiano, a nouvelle vague francesa, os filmes de Bergmann e tantos outros que remetiam ao um pensamento mais pessimista, de modo que eu me achava um personagem existencialista, “viver por viver”, algo assim.
Não posso negar a influência dos filmes políticos italianos, principalmente, os denominados filmes ou documentários de resistência, inspirando-me a pensar o contexto local em que vivia, sempre acreditando que seria possível uma revolução de fato, “o povo no poder”.
Essa linha de pensamento sempre me acompanhou, não de um modo obsessivo, há o amadurecimento e a compreensão de um equilíbrio político, um profundo respeito pelo pluralismo ideológico, à democracia e, de um modo mais específico, ao resultado das urnas.
Sempre acreditei na livre iniciativa, no mercado, no empreendedorismo e no mérito individual.
É salutar a prosperidade individual ou coletiva, de modo que penso hoje com mais clareza em um capitalismo liberal, ou melhor, uma social democracia, um justo equilíbrio entre o estado e o mercado, tudo dentro de marcos constitucionais inegociáveis, a lei é soberana.
O que me atraia naqueles filmes europeus, nos mais diversos cenários era a presença do livro, muitos livros, mesmo nos minúsculos apartamentos, sempre havia uma pequena estante.
A gente percebia que o diretor, muitas vezes, focava a câmera no título e no nome do autor. Foi o que eu percebi em um antigo filme inglês, intitulado “O homem de Kiev” ou “The Fixer” (1968) onde o personagem principal, o ator falava sempre em Baruch Spinoza (1632-1677).
Então, foi nesse filme que me chamou a atenção e a curiosidade por esse filósofo judeu, holandês, de origem portuguesa.
Uma leitura que me abriu a mente, “um Deus geométrico’, o panteísmo, e por outro lado, a importância de dignidade humana, o homem livre, a possibilidade da liberdade humana, através do pensamento filosófico.
Isso tudo em pleno século XVII, e a inevitável perseguição que Spinoza sofreu em sua breve vida, da parte dos judeus holandeses, dos protestantes e também dos católicos.
Ficou visível, na minha cabeça de um jovem estudante universitário, das vicissitudes que um intelectual, livre pensador, passa no decorrer da sua vida.
Por outro lado, a alegria de se mergulhar “de cabeça” no conhecimento direcionado à emancipação popular.
*Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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