OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO : DIA DO SOLDADO

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo nesta manhã cinzenta, na tranquilidade do lar, ouvindo Debussy, (“Clair de lune”), exercitando algo que me é prazeroso: escrever.

Sempre escrevi, gostava das redações e da arte da escrita à mão, no lápis, na caneta tinteiro e esferográfica, na máquina de escrever e, agora, na facilidade impressionante do teclado do notebook, no generoso “word”.

Escrever com o lápis tinha a possibilidade de apagar com a borracha, de afinar a ponta com o apontador ou então, mais perigoso, o uso da lâmina de gilete, havendo o risco de cortar o dedo, resultando, às vezes, manchas de sangue no papel, de certa forma, uma tinta improvisada, poderíamos, ver, nitidamente, nossa impressão digital.

Lembro-me dos cadernos de caligrafia, o exercício da bela letra, na justa proporção entre letra maiúscula e minúscula, obedecer ao encontro entre as letras e linhas, pois, aprendemos que uma bela letra revela um espírito organizado, aspectos a serem observados numa futura entrevista de emprego.

Aprendi cedo o conceito de Caligrafia, (khalós e Graphos) a bela letra e a necessidade de conhecermos mais a etimologia, principalmente grega e latina, pois falamos a bela língua portuguesa, “a última flor do Lácio”. Sabíamos também que, quando iríamos “servir” ao Exército, com a letra bonita e correta, logo seríamos promovidos a Cabo, uma honrosa distinção. Hoje, enquanto escrevo, leio na Folhinha que é o Dia do SOLDADO, uma data importante sob vários aspectos.

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Todos os meus irmãos foram soldados, serviram ao Exército, em Joinville e Blumenau, uma escadinha de idades, um depois do outro, a farda, o cabelo “soldadinho”, a bolsa típica e as visitas rápidas em casa, contando à família a vida no quartel, a disciplina, os acampamentos e o aprendizado no tiro do fuzil. Como eu era o caçula, ouvia com muita atenção, e, muitas vezes, acompanhava meus irmãos até o ônibus, ali no lado da antiga Prefeitura, hoje Museu.

Havia a despedida e eu voltava trazendo a bicicleta, na avenida Marcos Konder, quase deserta, com os terrenos baldios, as tiriricas, rãs e cobras d’água, talvez algumas saracuras. Estou falando dos anos de 68, 69 e 70, anos do serviço militar dos meus irmãos.

No meu caso, fui dispensado, alistei-me em 1973, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e, serviria no próximo ano, 1974.

Era um jovem normal, jogava muito futebol, sem nenhum defeito físico, seria, certamente, um bom recruta, porém, já iria para o segundo ano de Engenharia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro e isso, com certeza, pesou na minha dispensa.

Na verdade, olhando, hoje, acho que teria gostado de ter servido o Exército, aprende-se muita coisa boa e necessária para a vida posterior, disciplina, senso de responsabilidade e habilidade física. De certa forma, compensei essa dispensa ao Exército, na minha vida de Alojamento, com quinhentos moradores, descrita no artigo anterior, onde aprendi me defender, sozinho, na Cidade Maravilhosa, comida do Bandejão, e, posso dizer, enquanto engenheiro, professor, sinto-me um soldado intelectual, na defesa do desenvolvimento e da emancipação nacional.