OPINIÃO DE CELIO FURTADO: PRODUTIVIDADE DECLINANTE

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*Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Li recentemente no jornal “Valor Econômico”, uma preocupante matéria, intitulada “Produtividade declinante trava a economia brasileira”. Coloquei o adjetivo “preocupante” na intenção de provocar uma reflexão necessária sobre o desenvolvimento nacional. Em artigos anteriores, venho tocando na temática do destino nacional, mencionando a arrancada chinesa e de outros países, tigres asiáticos e, de um modo especial, a Índia, que vem se tornando uma potência nos campos científicos e tecnológicos.

A produtividade implica um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, “produzir mais e melhor com os mesmos recursos, em melhores condições de trabalho e com maior cuidado ambiental”. O que se observa em nosso país é uma estagnação da capacidade produtiva, com muita ociosidade no aproveitamento das instalações, causando, evidentemente, uma baixa competitividade nacional.

O Brasil é mais pobre não por causa de investimento, mas pelo baixo nível de capital humano e produtividade. A renda per capita nacional não cresceu em relação à dos Estados Unidos, permanecendo em torno de 25% daquela potência, enquanto outros países que partiram do mesmo patamar vêm se aproximando do índice norte americano. Sabemos que o que eleva a produtividade geral da economia, os fatores determinantes são qualidade do capital humano, o nível de governança e, também, o ambiente de negócios. Indicadores que são desfavoráveis ao nosso país. Uma boa governança estimula o empenho para acumulação e inovação gerencial e tecnológica.

Nosso caso, entramos em um ciclo vicioso, diante do baixo investimento resultado do baixo crescimento. Esperava-se no governo Bolsonaro, vitorioso nas urnas, com forte expectativa popular, um arranque inicial, no primeiro ano de governo, haja vista o discurso otimista, com forte inclinação neoliberal de direita, seguindo a Escola de Chicago. Nada aconteceu, o PIB cresceu 1% menos que o governo anterior do Presidente Temer. Naturalmente, para esse ano, há uma forte recessão, porém, há a desculpa convincente da pandemia, um fenômeno mundial.

Quando em artigos anteriores mencionei a expressão “década perdida”, escrevi com a preocupação de quem torce pelo êxito do desenvolvimento nacional, pois, na prática, isso representa mais empregos, mais renda, mais oportunidades para a nossa juventude, e, principalmente, um clima de euforia e otimismo necessário para destravar a economia.  Algo meio utópico como o índice de 7%, que é o padrão chinês.

Sabemos que num ambiente de incerteza elevado e agravado no contexto da pandemia, não podemos ser otimistas, infelizmente. Ninguém quer investir, há uma fuga para ativos mais seguros como o ouro que vem disparando no mercado internacional. Sabemos que o capital tem aversão ao risco, faz parte da natureza humana e que a essência do capitalismo é a garantia de contratos e a consolidação de um ambiente sólido de confiança nas instituições. Diante de uma alta informalidade, somada ao grande desemprego, não podemos esperar uma Produtividade Total dos Fatores, crescentes, de modo que estamos diante de mais uma década de crescimento medíocre. Saímos de um populismo de esquerda e mergulhamos num populismo de direita, muito ruído, pouca realização.

Infelizmente, não temos motivos para comemorar a produtividade declinante.


Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br


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