*Célio Furtado
Economista e professor da Univali
celio.furtado@univali.br
Dentro da análise de conjuntura, aparece em primeiro plano o tema do Desemprego, um problema concreto que flagela uma parte considerável da população brasileira. Um assunto amplo, complexo e multifacetado, exigindo sempre abordagens multidisciplinares, levando-se em consideração as diversas conjunturas, internacionais, nacionais e locais.
De fato, as coisas estão interconectadas, como vasos comunicantes, que, tão cedo aprendemos nas nossas aulas de “Ciências”, no período ginasial. O tema sempre esteve presente também, no modo subjetivo, na minha infância, quando acompanhávamos os dramas das famílias pobres em nossa periferia, bem como as fases mais difíceis da vida doméstica onde, de um modo explícito, ouvíamos a seguinte recomendação: “mais feijão e menos carne”.
Para muitos adolescentes era normal o conselho que já era senso comum: “acaba o Ginásio, faz o Contador e arruma um emprego no Banco, de preferência, para o Banco do Brasil”. Para isso, era necessário um curso completo de Datilografia, ter habilidade com a máquina de escrever. Ser livre de vícios e ter bons costumes além de saber “bater máquina”, já abriam portas para boas carreiras, devendo ser assíduo e pontual, cumpridor dos deveres e não “botar a mão” naquilo que não te pertence.
Há sempre a tentação da referência individual, da apropriação de modelos colhidos na nossa vida concreta e real para expor a complexa problemática do desemprego, um drama nacional da atualidade. Um filme que assisti há muito tempo, provavelmente no Rio de Janeiro, na época dos Cineclubes, foi “Ladrões de Bicicletas”, de Vittório de Sica, 1948, do neorrealismo italiano. Filme “preto e branco” que retrata o drama de um operário italiano que teve a sua bicicleta roubada, sua fonte de sustento, e todo o drama decorrente dessa pequena tragédia humana e doméstica. Quase todo o filme na busca desse meio de sustento, a sua zica, pelas periferias de Roma, acompanhado do seu filho, ou seja, pai e filho incorporados no mesmo esforço, quase impossível, do tipo “procurar uma agulha no palheiro”, manifestando uma força expressiva muito intensa quanto a necessidade e importância de se possuir um emprego, um trabalho limpo e honesto.
Coluna anterior do economista Célio Furtado
Retornando ao “aqui e agora”, lemos a existência de um quadro de mais de 13 milhões de desempregados no Brasil. Não se trata de buscar culpados, existem problemas estruturais, conjunturais e também de ordem moral. Quando se acena, por exemplo, com um lema “ Fome Zero”, trabalha-se com uma meta, realisticamente, inatingível.
Tudo bem, porém pressupõe uma atitude, uma compreensão macro econômica e sociológica de que o atual modo de produção dominante não alcança a meta moral de erradicação de pobreza vigente. Do mesmo modo seria necessário o governo criar uma meta “Desemprego Zero”, pelo menos como parâmetro para as principais ações do executivo.
Algo tipo assim: “enquanto houver um desempregado apenas, no país, meu governo não sossega”. Pode parecer utópico e irrealizável, porém, passaria uma visão aos agentes econômicos de que a situação não pode permanecer assim, podemos revertê-la, é possível, devemos acreditar num Brasil próspero e justo !
*Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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