*Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo na tranquilidade da noite, ouvindo música, saxofone jazz e me organizando para um novo texto, meu compromisso semanal com os leitores e também comigo mesmo, um hábito salutar que me faz bem.
Tenho acompanhado diariamente alguns jornais da denominada “grande imprensa”, virtuais, não mais impressos o que exige um outro esforço visual.
Porém, esse contato com os jornais, diariamente desperta necessariamente o gosto pela visão global, o contato com os grandes articulistas e, principalmente, pelos editoriais.
Sempre me atraiu o texto elegante, coerente e bem articulado, desde os tempos de estudante no Rio de Janeiro, quando lia sempre que podia o Jornal do Brasil, um jornal de classe lido pela elite politica e empresarial brasileira.
Textos bem elaborados, com uma limpidez gramatical e estilística, exatos, de modo que raramente se achava um erro de concordância nominal ou verbal.
Falava-se, por exemplo, que a Coluna do Castello, era um primor de elegância e refinamento, além das informações nas entrelinhas dos bastidores do poder em Brasília.
Estou me referindo à década de 1970, em plena vigência da Ditadura Militar, onde havia uma censura explícita em todas as manifestações culturais e artísticas, e, sobremaneira nos jornais.
Vivíamos sob um controle geral, dos corações e mentes e, posso afirmar que naquele contexto, aprendi o aproximado sentido do “Sistema”.
A estrutura do poder sempre me atraiu, intelectualmente, saber quem é quem, uma certa curiosidade para refletir sobre as fissuras do poder dominante.
Nesse sentido, a palavra resistência tornava-se evidente, aproveitar os espaços disponíveis, ser solidário aos combatentes visíveis ou clandestino, mergulhando na dialética da “luta”.
Eu conhecia pessoas mais engajadas, mais aprofundada na dinâmica da luta e, sabemos que o ambiente universitário é fértil na formulação de ideias, de debates e de choques de opinião, ainda que formulados e executados em ambientes discretos, fechados, podemos dizer, clandestinos.
Convivia com pessoas cultas, estudiosas de muitos autores importantes, tais como Antônio Gramsci (1891-1937), um pensador, teórico e militante italiano que viveu boa parte de sua vida nas masmorras de Mussolini.
Penso que foi a partir desse contato que aprofundei a compreensão sobre o papel do intelectual na luta democrática, principalmente na função de formulador e influenciador de informação.
Naturalmente eu falo de um tempo sem internet, sem fake News, onde a coisa passava principalmente pela formulação de textos do que seria uma imprensa de pequena circulação, alguns panfletos do tipo mais reservado.
Porém, os grandes jornais como Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, Folha e também semanários, “Opinião”, “Movimento”, “Pasquim”, constituíam fontes de informação e conhecimento, conquistando junto ao grande público pessoas mais conscientes da necessidade da resistência à Ditadura Militar.
Era consensual, imagino que o processo de resistência e luta passaria pelo movimento de massa e foi, exatamente, o que aconteceu com as “Diretas Já”, que levou o regime militar a um impasse e chegamos ao nosso momento atual, no quadro democrático, consolidado com a Constituinte de 1988.
A leitura dos grandes jornais provocou essa regressão memorialista, meu aprendizado político.
*Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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