Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo neste final de setembro, primavera, na expectativa do outubro catarinense, festas e descontração. Muitos leitores apreciam o meu estilo memorialista, sempre trazendo à tona pequenos fatos, coisas simples, fatos que passaram despercebidos.
De fato, cada pessoa é um universo, fechado e misterioso, e quando a comunicação acontece, aborda apenas pequenos detalhes, “casquinhas”, pois sabemos que “cada um sabe onde o seu sapato aperta”, ou como diria aquele cantor “a dor da gente não sai no jornal”.
Na verdade, gosto dos temas do futuro, das previsões, das tendências, confio bastante nas amostragens e pesquisas, e, de vez em quando, escrevo algo do tipo “análise de conjuntura”. Os cenários me atraem sim, dentro de uma perspectiva realista, pois sabemos dos limites da condição humana, e, certamente, da racionalidade limitada.
De fato, compreendo os limites, respeito os diferentes pontos de vista, e aprecio uma boa conversa, respeitosa e que ofereça reciprocidade.
Gosto da linguagem popular, a sabedoria das pessoas simples, ainda que não podemos ficar prisioneiros ao senso comum.
Vendo velhas fotografias, preto e branco, da minha cidade, principalmente, sinto-me convidado a comentar, sem cair no saudosismo, no passadismo e, sim, observar a curva, a projeção para o futuro e a inexorabilidade do tempo.
Escrevo simplesmente por escrever, talvez para deixar registrado algumas pistas para os meus descendentes, alguma característica, algum detalhe da vida, talvez, até alguns ensinamentos. Na verdade, sou meio cético sobre a herança cultural individual, pois vejo a força das mídias sociais, a alta densidade das informações, tudo muda muito rapidamente e não há mais tempo para sínteses, pois como dizia o filósofo, “tudo o que é sólido, se desmancha no ar”.
Pedalando com a minha bicicleta pela cidade, vejo a força da construção civil, o surgimento de prédios e novos caminhos, dando a entender que tudo vai mudar rapidamente e nossa cidade será uma metrópole, uma “selva de pedras”, e cada vez mais, automóveis, o trânsito pesado e irracional.
Isso não me entristece, morei um bom tempo em cidade grande, no Rio de Janeiro e confesso que fui feliz. Porém, muito me atrai um urbanismo moderno centrado no ser humano, onde a força da vida prevaleça, com praças, jardins e caminhos a pé ou de bicicleta.
Olho com entusiasmo a nossa avenida Beira Rio, onde cada vez mais pessoas circulam e interagem, principalmente nas tardes de domingo, uma tendência que está se consolidando, com as caminhadas até Cabeçudas e também ao Farol do Molhe. Um espaço privilegiado de interação humana, tão necessário à saúde mental e física.
Na verdade, gosto do contraponto, as fotos preto e branco, um mergulho silencioso e discreto no passado recente, um convite ao cultivo da memória individual tão necessário para a consolidação da cosmovisão individual e coletiva. Não sou um doutrinador, longe disso, porém recomendo que se cultive o passado e que, sempre que possível, haja uma articulação, passado/futuro, uma dialética necessária à criatividade humana.
Outubro catarinense, as festas que encantam, nossa Itajaí, vanguarda no desenvolvimento e na alegria.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores