Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Ouço saxofone tenor, Stan Getz (1927-1991), nessa noite tranquila de início de agosto, com o pensamento solto, grato pelo dom da existência saudável.
Os dias ensolarados, o céu azul e, nessa época, o mar está calmo, as águas de Cabeçudas e da Atalaia parecem uma piscina ou melhor um espelho.
Tenho escrito coisas simples, detalhes pequenos de um cotidiano tranquilo, ressaltando a beleza dos quintais, os jardins, as árvores frutíferas os passarinhos, um sutil caminho do pensamento entre a poesia e filosofia, pois sabemos que uma vida é incomensurável, insubstituível quer moremos no luxo ou na pobreza, é sempre um sopro de Deus.
Tenho tido o privilégio de pedalar pela cidade com o meu neto, na cadeirinha, com todo o cuidado possível e ao mesmo tempo descontraído pois sei que estou com um Anjo da Guarda.
A imensa planície que é nossa cidade facilita muito, torna mais fácil o pedalar, como se estivéssemos deslizando em uma superfície lisa, apesar do trânsito, dos automóveis, da pressa excessiva e, muitas vezes, desnecessária.
Gosto da cidade, da paisagem urbana e observo com uma certa atenção os novos prédios, a construção, a labuta humana, a despedida de uma antiga paisagem tão comum e familiar à minha infância, como se a memória tentasse resistir ao barulho dos caminhões e ao concreto. Inevitável o progresso, homens e máquina, precisão e produtividade, tudo dentro de um padrão de tempos e movimentos, a racionalização do trabalho, as metas, o gerenciamento eficaz das organizações.
Também, quando pedalo com o meu neto em direção ao Farol do Molhe, da antiga Boca da Barra, vejo os dois lados, o rio e o mar, calmos, tal como uma superfície de vidro e, lá longe, vejo o Gravatá e um avião decolando.
Um grande navio está chegando e com ele mercadorias, trabalho humano, abastecimento, tudo cronometrado pois sabemos que “tempo é dinheiro”.
A reta do molhe é muito agradável e, chegando no Farol, insisto no contorno dextrocêntrico, da esquerda para a direita e no céu vejo algumas gaivotas brancas e ágeis, anunciando que tem peixe por perto.
Do Farol à Praia, observo a quantidade de prédios, uma cidade rica e próspera, uma certeza no progresso e de que vivemos numa das melhores cidades, do país e quem sabe do nosso continente, uma cidade completa.
A memória sempre aguda e atenta, um passado que vem à tona, uma infância e adolescência e os banhos de Cabeçudas, a Pedra e o conceito de elite e do poder catarinense.
Por outro lado, vem o futuro, o pensamento pós-moderno, a arte e as novas estruturas, a cibernética e as pessoas caminhando com o fone de ouvido, consultando insistentemente os seus smartphones, os equipamentos de últimas geração, passos rápidos de quem quer “manter a forma”, preservar a saúde e buscar inspiração nas suas caminhadas pois muitos são os desafios e, na verdade, não há muito tempo a perder.
De longe escuto o canto de um sabiá laranjeira, algumas aracuãs, o coração em paz.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores