Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo na tranquilidade de minha casa ouvindo saxofone new age música, organizando o pensamento, construindo um texto, pensando no meu país.
Aprendi que a filosofia é “mais um quintal de obras, do que um edifício pronto e acabado” de modo que tudo está por ser feito, vários caminhos a serem seguidos. Há um certo alívio, um astral bom com a liberação das máscaras, uma confortável sensação de que o pesadelo da pandemia está passando, isso é muito bom.
Aparentemente estamos voltando a uma normalidade anterior, porém, nada disso acontece “na real”. Guerra, carestia, desemprego em massa e uma juventude sem perspectiva. Houve, de fato, um empobrecimento material e intelectual e cada vez mais me convenço que o projeto passa por uma conscientização, uma tomada de consciência para as grandes e possíveis mudanças que surgirão da luta, dentro da democracia.
Não sabemos ainda o desfecho da questão da Ucrânia, porém o que virá é uma nova etapa na história, a passagem de uma guerra fria para uma guerra quente.
Temos, nós, brasileiros, que retomar o projeto nacionalista, desenvolvimentista e certamente, de substituição de importação. Devemos reduzir a nossa dependência do exterior, estimulando novamente a produção, a criatividade e a inovação tecnológica.
Somos um país continental, de uma imensa costa marítima, de modo que devemos tirar vantagem competitiva desses fatores.
Combinar uma autonomia tecnológica com uma democracia forte, estável e consensual. Está aumentando a decepção com o neoliberalismo inspirado e promovido pelo denominado “Consenso de Washington”, que foi desastroso ao nosso país, haja vista a desindustrialização visível e progressiva.
Minha orientação política desde a época de estudante universitário estava impregnada de uma “visão nacional”, presente tanto nos militares quanto nos setores da esquerda intelectual brasileira.
Houve um consenso quando o presidente Geisel assinou o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assim como apoiou a independência de Angola e Moçambique, de orientação socialista.
Falava-se no “pragmatismo responsável”, a necessidade de um diálogo com todos e não um alinhamento automático com os Estados Unidos. De fato, eu me sentia atraído pelas propostas nacionalista e enquanto estudante de Engenharia, olhando diariamente da Ilha do Fundão a construção da Ponte Rio- Niterói, falo da década de 1970; sentia o vigor e o potencial de nossa tecnologia autóctone, a imensa disponibilidade de nossos laboratórios de pesquisa, espalhados nas principais universidades brasileiras.
E hoje? Minha resposta é a seguinte, devemos reverter esse desmonte de nossa indústria, a demonização de nossas universidades públicas, e voltar a valorizar nossos cientistas e engenheiros.
Não nos fecharmos ao mundo, porém, devemos absorver as tecnologias disponíveis no mundo, praticar a “engenharia reversa”, fazer como os chineses que fazem tudo, encaram desde as quinquilharias das lojas 1.99 até as mais complexas nanotecnologias, dão um exemplo eloquente ao mundo.
Dispomos de uma juventude criativa, com enorme potencial que deve ser explorado e estimulado de um modo inteligente e moderno, praticar a ciência e a tecnologia, teoria e prática com um forte incentivo estatal.
Fomentar a capacidade técnica e cientifica de nossa juventude.
É o caminho!
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores