OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO : DEZEMBRO FÉRTIL

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo, nessa manhã cinzenta, nesse início do mês de dezembro, aliás, na segunda semana, grato pelo dom da vida, um presente de Deus.

Ouço um canto lírico com temas medievais, um certo interesse pelo latim, pelas vozes, principalmente, o soprano, como se fosse uma viagem ao passado, um milênio atrás. Poderia pegar o compasso e projetar o sentido oposto, ou seja, o ambiente futurista, um milênio após, acreditando que a humanidade sobreviverá e viveremos uma nova utopia urbana, um novo Éden, quem sabe.

Teríamos um consumo mínimo de energia per capita, um respeito profundo pela natureza, ao precioso líquido água e ao ar puro. De fato, a geometria sempre me atraiu, o uso do esquadro e compasso, e, com o meu pai, aprendi muito sobre a retidão do fio do prumo, a importância do ângulo reto, perpendicular, e que as paralelas apenas se encontram no infinito.

À medida que avançamos na idade, percebemos a importância dos conceitos geométricos para a vida moral, no cotidiano, pois aprendemos a admirar um homem de vida reta, sempre afastado dos caminhos tortuosos dos mal feitos.

Não posso negar a minha inclinação para a matemática, o gosto pelo cálculo, uma certa habilidade nas equações e o atingimento de resultados exatos, a alegria por ter “acertado um problema”.

Essas qualidades desenvolvidas na adolescência foram decisivas para a escolha no Vestibular do Rio de Janeiro (1973), para as Ciências Exatas, de um modo mais especifico o Curso de Engenharia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a renomada UFRJ.

Morei, nos cinco anos, nos Alojamentos de Estudantes da Ilha do Fundão, uma vida saudável e aplicada aos estudos, e, sempre que podia lia alguns filósofos, principalmente os renascentistas, os pensadores que articulavam filosofia e matemática, tais como Pascal, Descartes, Espinoza, Leibniz, Isaac Newton e outros.

Aprendi cedo a distinção entre o espirito geométrico e o espirito da finura, com Pascal, que dizia que o “coração tem razão que a própria razão desconhece”.

Apreciava a ideia de buscar métodos que tornassem mais eficaz a “arte de pensar”, o combate aos “obstáculos epistemológicos”, as distorções cognitivas, como se fosse possível o atingimento das certezas.

Aprendi muito cedo a metáfora de Sísifo, personalidade mitológica grega, condenado a empurrar uma pedra até o topo de um morro e, quando estava quase chegando, a pedra rolava morro abaixo, exigindo um novo esforço do Sísifo, num eterno movimento, expressando a inutilidade do esforço humano para chegar na “verdade absoluta”.

Por outro lado, atraia-me muito outro mito, Prometeu, que, com muita habilidade, roubou o fogo dos deuses e, por conseguinte, iniciou a tecnologia, a aproximação crescente à perfeição tecnológica, ao mundo cibernético que vivemos hoje.

Minha mente sempre balançou, como todo mundo, entre o passado e o futuro e, no Rio de Janeiro, década de 70, enquanto esperava o ônibus no Castelo, centro do Rio de Janeiro, gostava de cantarolar essa instigante canção “sua cuca batuca, eterno zigue zague, entre a escuridão e a claridade”.

Dezembro tem demonstrado ser tão fértil.

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br

 

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