Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo nessa manhã, nublada, ouvindo saxofone, pensando na “Semana da Pátria”, no sete de setembro, que já passou, pois a tradição nos sugere pensar no nosso país.
O mês de setembro sempre tem significado especial, a chegada da primavera, os pássaros e as marchas do sete de setembro, antigamente, ali, na Hercílio Luz, a rua principal de nossa cidade. Um desfile que era um acontecimento, a fanfarra do nosso Colégio Salesiano, o uniforme branco e o ritmo da marcha, mantendo a distância e a disciplina nos pelotões.
Um dia festivo, feriado, futebol e praia, os discursos, e a comida melhor na mesa porque era algo semelhante ao Domingo. Toda a nossa educação convergia para uma concepção de um Brasil grande, “gigante pela própria natureza”.
Gostava daquela marcha, na época sabia de cor: “estudantes do Brasil, tua missão é a maior missão, trabalhar pela grandeza e pela honra do Brasil….”.
Atraía-me a função de soldado estudante, olhar a nossa história oficial, nossos feitos na última guerra mundial, os expedicionários ainda estavam fortes e saudáveis e nos contavam na guerra da Itália na tomada de Monte Castelo.
Lembro-me do sete de setembro de 1970, uma celebração grandiosa, o futebol brasileiro conquistara o tri campeonato no México, “noventa milhões em ação, pra frente Brasil …”, uma verdadeira catarse de otimismo cívico, “ a pátria de chuteiras”, Brasil , “o pais do futebol”, muita alegria contagiante, impregnada pela Censura e pela propaganda oficial, o presidente general Médici , com um rádio de pilha no ouvido, era o símbolo do poder pátrio, a Transamazônica, as duzentas milhas no nosso litoral, a ponte Rio Niterói, otimismo nas exportações, “Brasil, ame-o ou deixe-o” ou melhor “Ninguém segura esse país”.
Posso afirmar que os desfiles e a Semana da Pátria na Itajaí da minha infância e adolescência eram os momentos mais felizes, irradiando otimismo, esperança e fé no meu país.
Depois, minha ida para o Rio de Janeiro, aumentou a compreensão do processo político, dos porões da ditadura, os relatos de presos, torturados e dos “sumiços” misteriosos de pessoas que expressavam a sua opinião.
Naturalmente, aumentou a consciência politica e intelectual e podemos ver o poder do que se denomina propaganda enganosa, havia uma luta silenciosa pelas liberdades democráticas, uma resistência heroica, numa luta desigual contra as trevas do autoritarismo, no Brasil e terrivelmente cruel no Cone Sul, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile.
Aprendi que o patriotismo não é privilégio nem monopólio dos militares, nem da direita, e sim, um direito e dever de todo o povo brasileiro.
Comecei a compreender com lucidez que os presos políticos, torturados, exilados, desaparecidos eram grandes patriotas, pois sacrificavam o conforto de sua vida pessoal, carreiras, juventude, família e saúde por verem um povo libre e soberano, o forte ideal da emancipação nacional, “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”.
Passei a olhar com maior respeito a expressão “brava gente brasileira…”, pois, cada vez mais sentia a necessidade de compreender a história subterrânea de nossa gente.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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