OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO : CONJUNTURA/MEMÓRIA

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo nesta manhã ensolarada de agosto, ouvindo jazz/ saxofone, alegre e grato pela vida generosa que o Criador tem me concedido. Tenho escrito algumas observações gerais sobre o panorama nacional, uma vocação pessoal que tenho para pensar o que se denomina análise de conjuntura, um hábito desde os tempos de estudante universitário.

Morando nos Alojamentos dos Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão, tive o privilégio de conviver com colegas oriundos das mais diversas regiões do país, e também de países vizinhos da América do Sul.

Era uma população de quinhentos estudantes, masculinos e femininos, estudantes dos mais variados cursos, Engenharia, Medicina, Enfermagem, Arquitetura, Astronomia, Geologia e outros.

Muitos sotaques diferentes, mineiros, baianos, nordestinos e também a fala espanhola dos amigos bolivianos, chilenos, paraguaios, colombianos, peruanos e, assim, por diante.

 

Havia muitas interações, bandejões, nos pátios, e os debates em pequenos grupos, sempre com os receios naturais e justificados, também muita desconfiança e repressão; vivíamos a década de setenta, “anos de chumbo”, Ditadura Militar, prisão, tortura no país, como todo mundo sabe.

Conforme escrevi acima, sempre me interessei pelas notícias sobre o Brasil e o mundo, com a plena consciência da vigência da censura oficial, pois, vivíamos um estado de exceção.

Eu gostava muito do Jornal do Brasil, seu estilo clássico, seus editoriais elegantes, realistas, e, principalmente, o Caderno B, o espaço da cultura e reflexões filosóficas. Havia outras fontes, publicações, jornais clandestinos e os noticiários das emissoras de rádio do exterior, BBC de Londres, Rádio de Moscou, Pequim, Havana, com a sua programação para a língua portuguesa e espanhola.

Adorava “viajar” pelas Ondas Curtas, do meu rádio, ouvindo baixinho e aprendendo a globalização, os contextos, as entrevistas e as análises de conjunturas, além da vida dos exilados brasileiros na Europa.

Naturalmente, havia os debates posteriores, as reflexões coletivas, o entrechoque das diversas visões e tendências, em um ambiente democrático, próprio de uma juventude universitária de vanguarda, no meu caso, na UFRJ.

Na minha fase de estudante, aconteceram ao nosso redor, no país e no mundo, grande eventos, a Revolução dos Cravos em Portugal, a independência de Angola e Moçambique, o golpe militar no Chile, o fim da Guerra do Vietnam, o acordo nuclear Brasil/Alemanha, o estilo pragmático do general Geisel, que superou as crises militares internas : demitiu um ministro do Exército,  um chefe do 2º Exército e do Gabinete Militar, na sua famosa distensão “lenta, gradual e segura”, inspirado na genialidade do general Golbery.

Talvez o meu aprendizado politico tenha sido precoce, influenciado pelo meio que convivia e interagia na Cidade Maravilhosa.

Aprendi muito cedo a utilizar a dialética e o materialismo histórico para interpretar a nossa realidade, sem nunca cair no dogmatismo, pois sabemos que a vida é um aprendizado permanente.

Esse ciclo de concepção dominante, o meu olhar sobre o mundo, sofreu um revés, com a queda do muro de Berlim, posteriormente.

Outros instrumentais de análise se fizeram necessário, porém a lealdade à democracia e à luta continuam.

 

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br


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