Escrevo nesta tarde de inverno, início de agosto, ouvindo uma música japonesa, (in the mood of Love/ Shigeru Umebayashi).
A temática japonesa está na ordem do dia, pelas Olímpiadas, ensejando sempre uma reflexão sobre os feitos de nossos atletas nessa competição, conquistas e derrotas, Japão.
Naturalmente, vem à tona uma observação sobre a correlação entre sucesso nos esportes versus sucesso no desenvolvimento econômico e o consequente grau civilizatório, pois sabemos que tudo, de um modo geral, está inserido no poder e a competitividade internacional, também presentes nesse espetáculo global. Porém, a referida canção também nos evoca uma ideia da universalidade da arte, transpondo as fronteiras, disseminando as boas emoções em algo maior que é a Humanidade. Nesse sentido, temos que ter um olhar mais amplo e concreto sobre todo o globo terrestre, a necessidade de uma paz perpétua e universal, uma visão mais impregnada de compaixão e cuidado pela mãe natureza, senão, vamos todos para o “beleléu”.
O Japão ocupou uma boa parte do meu interesse acadêmico em 1980, quando eu fazia o Mestrado em Engenharia de Produção pela Coppe UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, orientado pelo filósofo francês Michel Thiollent.
Na época, eu escolhi como tema de dissertação o assunto então “do momento”, Círculos de Controle de Qualidade, os já famosos CCQs, uma concepção japonesa de chão de fábrica, orientada para a participação dos operários, colaboradores, em processos de sugestão de melhorias de qualidade nos processos de trabalho. O assunto estava chegando no Brasil, e algumas grandes empresas já o adotavam com visível sucesso.
Olhando, nessa retrospectiva de tarde cinzenta de inverno, passados mais de quarenta anos, vem à mente o contexto do sucesso japonês, sua recuperação das ruinas da segunda guerra mundial, duas bombas atômicas, a condição de país derrotado.
Além do mais, um país com escassos recursos naturais; uma ilha vulcânica. Eu, nos meus vinte e cinco anos, jovem engenheiro de produção, já com uma certa experiência em chão de fábrica e produtividade, mergulhei na temática, macro e micro, pensar o Japão, o país do momento, sua história, sua inserção na história ocidental, sua fibra e determinação, o modo fulminante como haviam derrotado a gigantesca Rússia czarista, no início do século XX, a obediência cega ao Imperador.
Como jovem engenheiro, idealista, eu pensava também, na estratégia que o país, estraçalhado pela guerra, adotou para dar a “volta por cima” e transformarem-se no novo paradigma da indústria moderna, rompendo com a vanguarda norte americana, com os seus “just in time, kaizen, inúmeras técnicas e, no meu olhar, as famosas iniciativas dos círculos de controle de qualidade, onde todos eram chamados para darem sugestões para o aperfeiçoamento do sistema produtivo.
Em muitas situações, os funcionários tinham o poder de parar o que estavam fazendo e repensar o trabalho, pois havia uma obsessão pelo “zero defeito”.
Nessa Dissertação, defendida em 1983, surgiu uma nova percepção do desenvolvimento nacional, na verdade, a possibilidade de uma revolução produtiva, tecnológica e politica no Brasil, a exemplo do Japão.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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