OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO : MARÇO /FINAL

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Tenho o hábito de escrever pela manhã, aos Domingo, principalmente, aproveitando a calma e paz da minha cidade, o silêncio e algumas ideias na cabeça.

Não preciso, necessariamente, fazer o resumo da semana ou do último dia, apenas depositar no papel (agora no word do notebook), ideias que surgem, que vem à tona, coisas boas e agradáveis que possam ajudar quem, eventualmente, as leia. De fato, na simplicidade das coisas, uma pequena lembrança, uma frase perdida ao longe, tudo isso possibilita um avanço e um mergulho, pois, não se conhece exatamente o fundo das coisas, tudo flui e escoa numa velocidade que escapa ao controle da racionalidade humana.

Há um fato concreto e sinistro: mais de 300.000 brasileiros mortos, até o presente momento, pela maldição do coronavírus, uma tragédia mundial, nacional e local. A morte ronda as nossas casas e famílias e vizinhança, vivemos uma situação de especial “temor e tremor”.  Felizmente, temos as vacinas. Há um consenso de que o caminho é a vacinação e os cuidados redobrados, individuais e coletivos, evitar o contágio, a contaminação, a transmissão silenciosa da morte.



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Confesso que é a primeira grande tragédia que a minha geração enfrenta, o primeiro confronto com a proximidade da morte coletiva, ainda longe, imagino, das valas comuns, dos sepultamentos em massa, a dor intensa e anônima. Nasci em 1955 e desconheço grandes tragédias, pois o que o noticiário oferecia era contornável, “café pequeno” diante do quadro atual. Grandes incêndios, maremotos, terremotos, atentados terroristas e guerras localizadas, nada afetando diretamente o nosso povo brasileiro.

Faltava uma tristeza concreta para a nossa geração, algo que aconteceu, por exemplo, a um cidadão de Hiroshima e Nagasaki, ou a um europeu, principalmente da Europa central, nascido em 1900, enfrentando duas terríveis guerras mundiais, uma pior do que a outra. Talvez um cidadão do Vietnam, do Norte e do Sul, numa cruel guerra que ceifou milhares de vida. Nada disso, sou um brasileiro tranquilo, muito mar e verde, ar puro e alimentação saudável e livros muito bons.

Gostava daquela música: “moro num “patropi”, abençoado por Deus, um país tropical, do povo cordial e acolhedor, da terra fértil, onde “cuspindo, nasce alguma coisa boa”.


 


Porém, caímos na real, o sonho acabou, e estamos diante de chuvas de notas de falecimento. É como se fosse exatamente o fim de uma viagem, de um sonho colorido quase psicodélico, algo muito além de Woodstock, a riqueza cultural fabulosa da década de 70, no Rio de Janeiro, na Cidade Maravilhosa, onde eu vi o Vasco da Gama do Roberto Dinamite explodir.

Caímos na real, “acabou-se o que era doce”, e, agora, como diz aquele pensador alemão: “cada um por si e Deus contra todos”.  O lado bom da pandemia, para muitas pessoas, foi a possibilidade de pensar na vida, mergulhar nos próprios pensamentos e administrar o tédio, buscar a distração, pois a filosofia é dolorosa, e, como diz Heidegger,

“a coisa mais estranha, nesses estranhos tempos,

 é que ainda não aprendemos a pensar”.

 

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br


NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.