OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO: LEMBRANÇAS DO RÁDIO

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Gosto de escrever, quase sempre, pelas manhãs, no início do dia, ouvindo uma música. Ultimamente, ouço o violonista russo Estas Tonne, “Internal Flight”.

Não posso aferir o efeito da música no texto, poderia também ser o canto dos passarinhos entrecortado pelo latido dos meus cachorros, ou seja, o som comum de um quintal arborizado. Antes ouvia também saxofone jazz, ou então o violão de Rafael Rabello.

O efeito é sempre o mesmo, um texto produzido no vigor da manhã dos incomparáveis domingos de Itajaí, minha cidade natal. Aqueles sons tradicionais da manhã são apenas lembranças, o apito do trem (partida ou chegada), os navios na Boca da Barra, o apito da fábrica de tecido (Tecita), ou os sinos da Igreja Nova, anunciando a Missa. Sim, havia o rádio ligado, as músicas nas emissoras locais e, se o rádio fosse bom, programas das principais rádios da Cidade Maravilhosa, (Tupi, Nacional, Mauá) e para os mais devotos, a inconfundível voz da Rádio Aparecida (Padroeira do Brasil).


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Tenho a obrigação de lembrar a Rádio Relógio, a hora certa (ao primeiro sinal….). Meu pai, orgulhoso e faceiro com o seu relógio de bolso, Ômega, conferia, sempre que possível, a exatidão do tempo, a superioridade dos suíços, a reflexão singela que talvez, nós, brasileiros, nunca produzíssemos relógios ou produtos mais sofisticados. Havia a superioridade, também, das bicicletas de marca alemã, e a qualidade incomparável do aço sueco.

Meu pai contava uma anedota, repetida, porém sempre atual, que os ingleses mandaram para a Suíça, o fio mais delgado imaginável. Os suíços devolveram-na, a agulha finíssima, com um furinho no meio…. Havia nos aparelhos de rádio um encanto indescritível, pelo menos ao meu olhar; eu gostava de ver um rádio, antigo ou novo, com muitas faixas, potentes, “pegavam rádio do exterior”.

Essa potência ou limpidez do som, ampliava-se com boas antenas externas, duas varas de bambu no quintal, um fio especial, não confundam com o varal. Porém, a pergunta: porque a rádio estrangeira se entendíamos apenas a língua portuguesa? Sim, é verdade, porém, as grandes emissoras internacionais, as rádios de Moscou, Havana, Pequim, BBC de Londres, a Voz da América, tinham seus programas em português, noticiários, comentários e curiosidades, talvez resida aí, a minha atual e tão banal “cultura inútil”.


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Entretanto, era bom ouvir no rádio potente, também, as falas “in natura” do chinês, russo, alemão, francês, espanhol e o inglês. Não se entendia nada, mas fazia bem aos ouvidos. Naturalmente, a programação local do rádio, as Rádios Clube e Difusora de Itajaí, era muito boa, fazia bem, preenchia um microcosmo individual e coletivo, oferecia-nos uma certa totalidade parcial. Era de especial valor afetivo, aguçando a imaginação, os prefixos musicais dos programas, particularmente, as notas de falecimento ou as notícias extraordinárias. Acho que lembro, na rádio, de tantas notícias extraordinárias, o acidente aéreo que matou o ex-presidente da república, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, batida de avião em pleno céu.

Porém, o ponto alto, no rádio, eram os jogos do Barroso.


Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br


NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.