*Célio Furtado
Engenheiro e professor da Univali
celio.furtado@univali.br
Escrevo nesta manhã, ouvindo boa música e olhando para o pequeno globo escolar à minha frente. Digo “escolar”, associando aos tempos do primário-ginásio, nas aulas de geografia, reforçando algumas ideias que preservo até hoje. Terra redonda, pequena esfera no imenso cosmo, a imensidão dos mares, nossas fronteiras e tantas coisas que povoam a mente fértil de uma criança.
Já, desde cedo, sabíamos que não fazíamos fronteiras com o Chile e Equador, e outra coisa curiosa, a percepção que a África e a América do Sul encaixavam, quase perfeitamente. Algo a ser pensado, juntamente com o Alasca que era unido à Ásia, possibilitando grandes migrações de povos pelos continentes.
Olhando o mapa da Bolívia, já imaginava a importância de uma saída para o mar, um “furinho” apenas, daria outra dimensão para esse imenso e misterioso país. Na imaginação, construía um pequeno ponto no papel, um mapa rústico com um porto boliviano, possibilitando o escoamento, via Oceano Pacífico, para “o mundo”.
Quem sabe, de um modo impensado já estivesse latente a ideia de uma saída brasileira para o Pacífico, aumentando o nosso poder nacional, pois como já dizia o poeta: “sejamos imperialistas”.
Escrevo essa introdução para justificar o meu gosto pela geopolítica, uma disciplina ainda pouco disseminada em nossa mentalidade brasileira, no cotidiano do pensamento da nossa gente, aparentemente, tão patriota e tão orgulhosa das cores verde amarela. Não podemos esquecer nossas grandes vitórias geopolíticas em nossa história, tal como o Tratado de Tordesilhas (1494), antes mesmo da nossa formação; o modo ousado e corajoso como nossos bandeirantes foram abrindo novas fronteiras consolidando o espaço nacional.
A ação diplomática do Barão do Rio Branco, habilidoso negociador, que nos proporcionou o precioso território do Acre. Anteriormente, não conseguimos “segurar” o Uruguai, pois havia também o impeditivo linguístico, seria um território brasileiro de fala espanhola, mais difícil de assimilar.
A concepção geopolítica sempre esteve presente em mentes mais abertas, no pensamento diplomático, pois, desde o inicio “a Humanidade sempre correu atrás de terras férteis”. Presenciei ainda na minha formação universitária, com entusiasmo, ações geopolíticas de grande alcance, como no governo do general Geisel: o reconhecimento da independência das ex-colônias portuguesas, Angola e Moçambique, assim como o Tratado Nuclear Brasil-Alemanha, contrariando os interesses americanos. Um pouco antes desse período, em outro governo, foi conquistado o importante “mar de duzentas milhas”, reforçando nossa presença naval e consolidando a autonomia nacional.
Particularmente, considero importante tanto a consolidação do MERCOSUL, como a cooperação brasileira a países africanos e latino americano, pois são semeaduras de longo prazo. Essas concepções de poder nacional, via uma diplomacia moderna, inteligente e flexível, são importantes e decisivas para a nossa sobrevivência. Sabemos das limitações do nosso poder militar, não temos vocações guerreiras e belicistas como muito países. Somos, de fato, “um povo cordial”.
Devemos buscar uma orientação multipolar, exportando e importando dos mais diversos países, fomentando fluxos de produtos, serviços e, principalmente, inteligência concentrada, ou seja, ciência e tecnologia. Viver em paz.
Visão diplomática, a prudente inserção no mundo.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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