São Paulo: Poemas de escritor baiano Lande Onawale serão lançados na 2ª Mostra de Literatura Negra Ciclo Contínuo

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Livro Pretices e Milongas de Lande Onawale mostra em versos nuances do cotidiano da população negra/Divulgação

 

Livro Pretices e Milongas de Lande Onawale mostra em versos nuances do cotidiano da população negra/Divulgação

“Não importa o tempo de afiar a lâmina/ o que conta/ é que ela cumpra o seu papel”.   Ê! Assim, como lâmina afiada, que será lançado  Pretices e Milongas do poeta,  escritor e compositor baiano Lande Onawale,  sábado (30), às 16h, na Ação Educativa, em São Paulo.

O livro é uma generosa celebração poética que busca criar um diálogo com os leitores, através de composições que trazem como temáticas cânticos e danças oriundos da capoeira, samba e do candomblé.  “Além de toda a poética da celebração do nosso modo negro de ser no mundo, com princípios herdados da África e essa potência que o povo preto tem em diversos momentos e ocasiões, sobretudo na prática religiosa, Pretices e Milongas também é um grito contra as mazelas as quais o nosso povo é submetido. Como o genocídio de homens negros, por exemplo”, pontua Lande Onawale.

Lançado pela Organismo Editora, o livro tem orelha assinada pela pesquisadora e militante do movimento negro, Mestra em Estudos de Linguagem, Lindinalva Barbosa. Para ela, “a cada página folheada, um manancial polifônico de Áfricas e diásporas salta, dança, pulula e sibila linguagens múltiplas e várias […] o novo livro anuncia a maturidade do poeta, que sem pressa ou agonia, `carpinta` cada poeminha com o melhor de si, do que viu/viveu até aqui, como o feiticeiro de ritmos tocados, cantados e escrivinhados que é” […]

O autor conta que apesar de longo, o processo criativo do livro foi um mix recheado de prazer e responsabilidade. “Foi um mergulho nas minhas vivências, e a cada verso escrito revisitava passagens muito importantes de minha formação cultural. No decorrer da criação da obra, os cânticos e adágios ouvidos na família ou em universos como a capoeira, o samba e no candomblé, exigiram uma abordagem mais sensível de minha parte, daí a responsabilidade que falo”, lembra.

Autor de outros três livros, ‘Sete Diásporas Intimas’, ‘O Vento’ e ‘Kalunga’, também de poesias, Onawale busca neste novo trabalho mostrar a imensa capacidade do povo preto expressar sua filosofia de vida, percepções e constatações estéticas, éticas, políticas e morais, e a poesia, segundo o autor, consegue traduzir isso de uma forma mais humana. O autor revela aspectos idiossincráticos do mundo negro através de recursos estéticos e estilísticos ousados e que valorizam a literatura afro-brasileira.

Para o jornalista, antropólogo e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab,  Marlon Marcos,  “Pretices e Milongas é a nova produção de um dos poetas mais representativos da Bahia: Lande Onawale chega cumprindo papel como arte e discurso etnicorracial, educativo e cultural, nos ensinando a sentir os marcos das culturas majoritárias na história brasileira: as negroafricanas”.

Depois de ser lançado em Salvador em novembro, Pretices e Milongas chega a São Paulo, cidade que tem uma importância afetiva para o autor, pois lá começou a publicar, em livro,  suas primeiras obras no Cadernos Negros, da Editora Quilombhoje.

O autor – Lande Onawale Munzanzu nasceu em Salvador, Bahia. Filho de Dona Germinia e Seo Pedro, é militante do Movimento Negro, poeta, escritor, compositor. Publicou os livros de poemas ‘O Vento’ (2003) e ‘Kalunga – poemas de um mar sem fim / poems of an infi nite sea’ (2011), e o de contos ‘Sete – Diásporas Íntimas’ (2011), adotado pelo MEC/PNBE em 2013.

Entre as antologias que participou, destaca: Cadernos Negros (Ed. Quilombhoje/SP, vol’s 19, 21, 23, 29, 30, 39); Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia crítica (Ed. UFMG/BH), Autores baianos: um panorama (SECULT/BA), Pretumel de Chama e Gozo (Ed.Círculo Contínuo/SP), e Revista Organismo nº 7 (Ed.Organismo/Salvador). Em vídeo, escreveu textos fi ccionais para os documentários “Makota Valdina: um jeito negro de ser e viver” (Fundação Palmares/ 2005), e “Lapis de Cor” (Canal Futura/ 2014), e o poema “Coração Suburbano”, na série ‘Salvador em Versos” (TVE/BA/2006).

  Sobre a  Mostra – A 2ª MOSTRA DE LITERATURA NEGRA CICLO CONTÍNUO é uma iniciativa cultural independente, realizada pela Ciclo Contínuo Editorial, em parceria com a Fio.de.Contas Produções, com o propósito de debater questões relativas à presença negra na literatura brasileira e assuntos que giram em torno da história, das produções e da vida literária negro-brasileira.

Neste ano, a Mostra será realizada nos dias 29 e 30 de novembro, na Ação Educativa, em São Paulo. Serão dois dias de atividades que convidam à reflexão sobre a obra da autora homenageada: Ruth Guimarães* (1920-2014) romancista, contista, poeta, jornalista e imortal da Academia Paulista de Letras, na qual ocupou a cadeira 22, e também dialogar a respeito da literatura de autoria negra, mercado editorial e políticas do livro e leitura no Brasil.

A programação vai reunir nomes como Conceição Evaristo (RJ), Fernanda Miranda (SP), Oswaldo de Camargo (SP), Joaquim Botelho (SP), Luciana Diogo (SP), Fernanda Sousa (SP), Neide Almeida (SP), Maitê Freitas (SP), Elizandra Souza (SP), Carmen Faustino (SP), entre outra/os, abrindo espaço para discutir variados gêneros literários com foco na bibliodiversidade, na difusão da literatura e na formação de leitores.