Célio Furtado
*Economista e professor da Univali
celio.furtado@univali.br
Escrevo nessa segunda-feira ensolarada sobre São Roberto Belarmino (1542-1621), Bispo e Doutor da Igreja. Poucos conhecem esse santo, um dos maiores intelectuais da Igreja, jesuíta, personalidade central na competente arquitetura da Contra Reforma, alguém, no meu entendimento, da mesma dimensão do Cardeal Ratzinger, na época do Papa João Paulo II.
Foi um grande defensor intelectual e doutrinário do Concílio de Trento( 1545-1563).Notável por sua cultura e oratória, seu saber teológico assombrou as universidades europeias, e sua eficácia na luta contras as heresias protestantes do seu tempo. Certamente, o interesse por esse sábio católico vai se reduzir, ainda mais quando se sabe que ele foi o principal debatedor e interrogador de Galileu Galilei, obtendo a sua negação diante da proximidade da condenação pela fogueira da Inquisição, tal como aconteceu com o filósofo Giordano Bruno, queimado em Roma em 1600. Foi canonizado em 1931, no papado de Pio XI Viveu em uma época conturbada, sendo que o julgamento de Galileu marcou praticamente o surgimento do pensamento cientifico moderno.
Tenho comigo, um velho livro de São Roberto Belarmino, intitulado “Libro de las Siete Palabras”, Emecê Editores/ Buenos Aires,1944, adquirido num Sebo no Rio de Janeiro. Um livro em espanhol, um exercício espiritual em torno das últimas palavras de Cristo na cruz :”Pai, perdoai porque não sabem o que fazem”. Curiosamente, encontrei na Folhinha do Coração de Jesus, referência a esse santo, e julguei oportuno tecer alguns comentários sobre meu interesse por esse personagem. Gosto da Folhinha, adquiro-a todo ano e presenteio algumas pessoas mais próximas.
Além do roteiro litúrgico diário, encontramos muitas informações e reflexões úteis para a nossa vida cotidiana. Pode parecer estranho e fora de propósito, um assunto de pouca importância, principalmente, quando estamos na fase de formação do novo governo, após a robusta vitória do Bolsonaro. Galileu também “puxou cadeia”, era um grande intelectual teórico e prático, um sábio completo. Roberto Belarmino também o era, um príncipe da Teologia, profundo conhecedor da Escolástica, do pensamento dos gregos e romanos um intelectual moderno, filho do seu tempo. Defendia a racionalidade da Igreja, ainda sob a forte determinação, uma interpretação mais ortodoxa da física aristotélica. Vivemos, de fato, um período muito obscuro, das mídias sociais, das afirmações superficiais e arrogantes, desinformação e pouca cultura histórica.
Os sábios e intelectuais da Igreja e principalmente, Roberto Belarmino não ignoravam as ideias de Kepler, Copérnico e tantos outros. Compreendiam que um novo humanismo, renascentista, estava se aflorando na mente das pessoas que já tinham acesso aos livros, Não nos esqueçamos que, com a invenção da imprensa por Gutenberg, o livro passou a ser mais barato e acessível. Havia também o choque cultural e doutrinário contra os seguidores de Calvino e Lutero. Um mundo complexo e perigoso, daí a importância de um gigante da disputa e pragmatismo que foi São Roberto Belarmino.
Estamos diante de um novo governo que pretende recuperar valores mais conservadores, na restauração de valores históricos. Daí a importância do retorno aos clássicos, entre eles, Roberto Belarmino!
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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