Diário de Bordo de Paulo Vinicius Arruda Passos

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Paulo

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Aos 45 anos de idade, resolvi que aos 50 anos iria sim velejar por todo planeta, sem data para voltar, preparei o barco e as finanças para poder partir enfim, em 2014.

 

Eu sou Paulo Vinícius Arruda Passos, 53 anos, hoje, Julho de 2017, em Key West, Florida – Estados Unidos da América..

Em 2012 esta mana reservou um hotel em Gramado para passar o Natal de 2014. Reunião gigante de toda nossa família. Pessoal de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Decidi então que iria naquele verão para Porto Alegre com o Petit Prince. Tenho tantos amigos velejadores no sul, mais a família gaúcha, por que não? Os primos gaúchos, desde adolescentes, sempre amaram navegar conosco.

E já iria até Porto Alegre, por que não dar uma esticada até a Patagônia?  Sonho chegar lá com o nosso bravo barco. Resolvi então ir até Península Valdez, lugar que conheço desde quando tinha 20 anos de idade. Cheguei a Ushuaia de carona em 1984, viajei por dois meses “a dedo”, sozinho pelo sul do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai.

Esta saída de Angra dos Reis para a Patagônia, em dois de dezembro de 2014, foi o início da circunavegação…

Após a nossa volta para Angra, a nova saída, final de julho de 2015, já tinha como destino, Tronso e Noruega, ou seja, nossa ideia sempre foi cruzar do Atlântico para Europa por primeiro e conhecer de perto os povos dos países mais frios. Por que Tronso, Noruega? Conhecemos um pessoal daquele extremo norte escandinavo, velejaram no Petit Prince em fevereiro de 2011, de Paraty para Ilha Grande. Norueguesas. Essas pessoas são as quais conheço que mais perto moram do Pólo Norte.  Resolvi então que um dia ia visitá-las em sua cidade.

Já que ia tão ao norte, Tronso fica no paralelo 69, acima do circulo polar Ártico 66, por que não completar a circunavegação pelas altas latitudes???

 

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Sou totalmente fascinado por aquelas regiões, por tudo que li das aventuras dos primeiros aventureiros que foram “descobrindo” aquelas terras e mares. Navegadores, exploradores polares, tais como Fitz Roy, Cook, Bouganville, Bhering, Bird, Amundsen, Schakleton e tantos outros.

Resolvi que a volta ao mundo não seria a convencional pelos trópicos, mas sim por lugares que tenho gigantesca curiosidade em conhecer. Ter contato com a cultura dos povos que vivem nos mais duros invernos do planeta. Chegar navegando com nosso Petit Prince, e uma bicicleta, nas altas latitudes, a terra deles.

Saímos de Angra em dezembro. Escala em Itajaí, Rio Grande e entramos em Porto Alegre. Nosso grande anfitrião foi o iate clube Veleiros do Sul. Ficamos como seu convidado até o dia 26 de dezembro/2014.

Nesta data saímos para o Sul, paramos em Tapes na lagoa dos Patos, e chegamos de volta a Rio Grande. Pausa para o aniversário desse que vos fala:

“Aniversário sendo comemorado na Lagoa dos Patos. Navegação técnica e divertida, com direito a dunas desertas e mergulho em águas calminhas.. Não está tão mau assim. ÓTIMO DOMINGãO PARA TU (o:” Já disse uma vez.

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Então de Rio Grande partimos para La Paloma, URUGUAI, nosso primeiro porto estrangeiro. Neste porto passamos o ano novo.

 

 

Seguimos então para Piriapolis e Montevideo, de porto do Buceo fomos para a ARGENTINA, em Puerto Madero, Yacht Club Argentina, por uma semana de cortesia.

“Argentina, a água voltou a ser verde. Um pedaço de vela a proa e a velocidade são alucinantes 9 nós..  Esta é a nossa estrada para Patagônia. ÓTIMO DIA A TI (o:”

Seguimos para a baia de Nunes, onde ficamos em dois clubes por cerca de mais duas semanas. De Nunes navegamos a jusante do Rio da Prata para La Plata, por cerca de 20 milhas. Lá ficamos em outro clube mais uma semana.

De La Plata fizemos uma excelente velejada para o sul, Mar Del Plata. Onde acredito que tenha ficado só dois ou três dias, porque tinha de aproveitar a janela de tempo para ir para a Península Valdes.

Mesmo eu tendo me programado dois anos antes que iria até a Península Valdez, o tempo todo, no caminho, via as alternativas. Caso as condições meteorológicas não favorecessem, abortaria a missão. Regressaria. Tava com muito medo mesmo.

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De Mar Del Plata para a Península Valdes fiz em solitário. Todos os que eu tinha convidado para este trecho, por um motivo ou outro, não puderam se juntar a mim. Três dias espetaculares indo para o Sul. O grande companheiro desta viagem foi o senhor Medo. Visitas constantes de cardumes de golfinhos, cada dia aparecia um tipo diferente.

A chegada na Península Valdes foi muito tranqüila. Brisa de SW, dia de sol. Consegui parar o barco em uma praia isolada daquele fantástico lugar. Ficar apreciando de perto seus selvagens banhistas, irritadiços, agitados, medrosos leões marinhos, pacatos e dorminhocos adolescentes elefantes marinhos. Isto era final de janeiro, inicio de fevereiro de 2015.

 

 

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Desta praia, na costa sul da península entrou no final do dia, em uma velejada memorável, para Puerto Madryn. Dentro do Golfo Nuevo. Vento bom, mar liso, por do Sol espetacular. Fora a felicidade de ter conseguido chegar ali, sozinho!!!

Um par de semanas em Puerto Madry, outra semana em Puerto Pirâmides. Em Puerto Madryn foi o maior susto de toda a viagem, 60 nós de vento ancorado, em uma congelante noite. Ondas curtas, cavadas e rápidas. O barco pulava muito. Não tinha coragem de ir a proa verificar a corrente e o cabo da segunda ancora. Tal medo paralisante de cair n’água. Lembro de ter colocando três casacos de tempo, um sobre o outro. Duas calças, mais a calça de tempo. Duas meias a e bota de borracha, gorro. Mesmo assim morria de frio. A grande preocupação eram as ancoras garrarem e o barco ser arrastado para o monumental pier de navios, com mais de 20 metros de altura, que estava a sota vento.

 

Já tinha recolhido toda a capotaria do barco, dog house, bimini. Tentava ficar do lado de fora monitorando para ver ser estávamos garrando ou não. Não aguentava de frio, ai entrava na cabine. De dentro não tinha como saber se estávamos nos aproximando do pier ou não. Voltava para fora. Não aguentava de frio, entrava na cabine. No conforto da cabine não me aguentava de aflição.Foi um tormento aquelas horas da tempestade.

Era sábado de carnaval de 2015.

Uma hora pensei, “o Brasil inteiro se embriagando, pulando carnaval no maior calor, e eu aqui, quase pulando no bloco dos pingüins naufragados! “

 

 

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“Kekitofazendoaki pelamordideus??!!???”