Itajaí: de cidade pesqueira a polo náutico internacional

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Editor – Adilson Pacheco

O ex-prefeito Jandir Bellini marcou a história econômica de Itajaí ao apostar na chamada Economia do Mar. Até então, a cidade era conhecida apenas pela pesca, construção de barcos e movimentação portuária. O primeiro passo foi ousado: apresentar à comunidade o projeto de uma marina. Apesar das críticas, a Marina Itajaí tornou-se realidade no coração da cidade.

Com o apoio do então secretário estadual Paulo Bornhausen, veio o maior desafio: trazer para Itajaí a maior regata do mundo, a The Ocean Race. Muitos duvidaram, chamando o evento de “regata dos barquinhos”. Mas já na primeira edição, a Vila da Regata recebeu cerca de 300 mil pessoas. O investimento girou em torno de R$ 10 milhões, enquanto a economia local faturou aproximadamente R$ 85 milhões  em 25 dias da parada.

O sucesso atraiu os organizadores da tradicional regata francesa Transat Jacques Vabre, que escolheu Itajaí como destino em duas edições consecutivas, partindo de Le Havre. A então Volvo Ocean Race, um dos pilares de marketing da montadora sueca, também trouxe impactos duradouros: os italianos da Azimut Benetti instalaram na cidade sua única unidade fora da Itália, com investimento de R$ 400 milhões.

Na primeira edição da regata, a demanda hoteleira foi tão grande que cogitou-se trazer transatlânticos para suprir a carência de leitos. A solução veio com a integração regional: Balneário Camboriú, Navegantes, Florianópolis, Joinville e Blumenau receberam parte dos visitantes. O setor hoteleiro respondeu com força, inaugurando cinco novos hotéis em Itajaí, alguns com bandeira internacional.

O evento consolidou a cidade como única parada da The Ocean Race na América do Sul, atraindo também a Regata dos Veleiros das Marinhas da América do Sul e Central, que encantou os moradores com os imponentes mastros cruzando a barra do rio Itajaí. Nesse mesmo período, a família Schürmann construiu na barra do rio seu segundo iate, o Kat, maior embarcação de aço da América do Sul.

A transformação não parou aí. Itajaí passou a sediar a Semana de Vela, recebeu barcos estrangeiros e viu nascer seu primeiro time de vela competitivo, o Itajaí Sailing Team, liderado pelo empresário Alexandre Santos. Dez anos depois, a cidade se prepara para receber pela quinta vez a The Ocean Race, agora sob a gestão do prefeito Robison Coelho.

O impacto econômico é inegável. Como destacou Richard Brisius, presidente da The Ocean Race, “é preciso que uma universidade faça um estudo sobre o desenvolvimento econômico que a cidade obteve com a regata”. Já em 2012, o então CEO da Volvo Ocean Race, Knut Frostad, profetizava: “Itajaí será o principal polo náutico nacional”.

A regata também abriu espaço para o jornalismo especializado. Durante uma cobertura internacional, um repórter local decidiu criar um veículo dedicado ao setor. Nascia o Regata News, primeiro como jornal impresso e depois como portal digital, hoje referência nacional na cobertura da vela e da The Ocean Race.

O movimento impulsionou ainda a criação da SCBrasil Esporte Náutico, empresa focada em colocar um barco brasileiro na The Ocean Race. O projeto foi inscrito para a edição 2022-23, mas acabou inviabilizado pela pandemia de Covid-19. A meta, no entanto, permanece: disputar três edições consecutivas e consolidar o Brasil no cenário mundial da vela.

O exemplo internacional mostra o potencial.

Em 2007-2008, o brasileiro Torben Grael venceu a regata como skipper do barco Ericsson, patrocinado pela gigante sueca. Até hoje, 17 anos depois, cada menção ao título conquistado cita o nome da empresa, evidenciando o retorno de longo prazo que o investimento proporciona.

Itajaí, que já foi chamada de “cidade portuária e pesqueira”, hoje é reconhecida como mundialmente capital sul-americana do esporte náutico de rendimento. A transformação iniciada por Jandir Bellini consolidou o município como principal polo náutico nacional e parada obrigatória da regata mais importante do mundo.

E a contagem regressiva já começou:
faltam 527 dias para os barcos IMOCA atracarem novamente no píer da Vila da Regata.