Portugal na rota da Volvo Ocean Race

0
387

 

Mark Turner, New CEO of the Volvo Ocean race 2017-18

Em Pedrouços já funciona o estaleiro que melhora os barcos para a próxima edição, mas a intenção da organização é que o investimento se prolongue por pelo menos dez anos

A próxima edição da Volvo Ocean Race (VOR) começa no outono de 2017, mas na sede da prova, em Alicante, Espanha, já se fazem projetos a dez anos. E essa visão – ainda cheia de incógnitas – inclui Lisboa. Não só como ponto de paragem da prova, o que já acontece desde a edição de 2011-2012, mas como estaleiro permanente onde os barcos serão melhorados entre cada regata e onde as equipas montarão a sua base de treino.

O futuro inclui como hipótese (muito provável) uma mudança substancial no ciclo da prova. Atualmente, esta regata de volta ao mundo acontece a cada três anos e dura nove meses. Mas o que se pondera, segundo o presidente executivo da prova, o britânico Mark Turner, é que passe a decorrer de dois em dois anos.

Para isso contribuirá, não na próxima edição mas na outra a seguir (presumivelmente, 2019-20), que as equipas passem a tripular um novo barco. Atualmente é o VOR65, um veleiro convencional de 65 pés (21,4 metros), que fez a última edição (2014-2015) e que fará a próxima. Mas entretanto surgiu na vela uma revolução: o foiling – a instalação nos barcos de patilhões laterais curvos (podem ter as mais diversas formas) que têm na água o efeito que os flaps têm nas asas dos aviões – fazem levantar o barco, diminuindo-lhes brutalmente o atrito da água e aumentando-lhes a velocidade para níveis inimagináveis há uns anos. Nos grandes veleiros de competição a revolução começou pelos multicascos, mas aos poucos tem-se vindo a alargar aos monocascos. E é essa a principal mudança pensada para a próxima geração de veleiros da VOR. As etapas oceânicas tenderão a tornar-se mais rápidas, encurtando o tempo global da prova.

Uma coisa parece certa: a evolução que se deu na edição 2014–2015, com barcos rigorosamente todos iguais entre si cedidos de chave na mão a todas as equipas, está de pedra e cal. Ninguém – começando por Mark Turner – imagina a regata a regressar ao modelo antigo, em que basicamente ganhava quem tinha mais dinheiro para gastar a fazer o melhor barco. Um orçamento de uma equipa concorrente a uma edição hoje pode fazer-se com 11/12 milhões de euros – mas houve tempos em que chegou a ser de 50 milhões.

Numa conversa em Alicante com jornalistas portugueses (do DN, Público, agência Lusa e Jornal Económico), Turner assume o óbvio: se a prova passar a ser bianual, a utilização do estaleiro (boatyard) da VOR já instalado na antiga lota de pesca da Doca de Pedrouços tornar–se-á bastante mais intensa. Entretanto, já outras frotas de outras competições internacionais de vela – na classe TP52 ou RC44, por exemplo – começam a ponderar a utilização do espaço para fazerem os melhoramentos dos barcos e treinarem nos períodos entre campeonatos. No que toca às equipas da VOR, é mesmo das regras que utilizem o Tejo e tudo à volta como campo de treinos para a competição. “Forçámos as equipas – enfim, persuadimos – a usar Lisboa como campo de treinos. É o único sítio autorizado para que façam regatas de treino uns contra os outros.”

Atualmente, o estaleiro da VOR em Pedrouços trabalha a todo o vapor. São entre 30 a 40 operários estrangeiros ultraespecializados que ali trabalham, alguns deles tendo trazido a família para Lisboa. O melhoramento de cada barco custa um milhão de euros. Há empresas portuguesas a fornecer serviços ao estaleiro e sabe-se que a uma empresa lusa foi concessionada a construção dos barcos semirrígidos com motores fora de borda que serão adjudicados às equipas.

Turner espera ter oito equipas concorrentes, mas para já só duas se inscreveram – uma terceira será anunciada brevemente. A organização revolucionou a regras de constituição das equipas criando mecanismos que forçam a constituição de tripulações mistas de homens e mulheres. A primeira equipa a avançar, a holandesa Azkonobel, disse que não – e por isso não poderá ter mais de sete marinheiros a bordo, “dose” curta para o que o VOR65 exige. A segunda, Dong- feng, pelo contrário, promete ter mulheres a bordo. O sonho de Mark Turner é ter uma equipa mista de homens e mulheres chefiada por uma mulher.



 

Fonte: http://www.dn.pt/desporto/interior/volvo-ocean-race-tem-projeto-a-dez-anos-e-lisboa-esta-incluida-5540389.html