Portugal – Desenvolvimento do turismo de iates na Figueira da Foz passa pela promoção da marina local

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Foto: Manuel Correia.
Foto: Manuel Correia.

O desenvolvimento do turismo de iates na Figueira da Foz passa, segundo um investigador da Universidade de Coimbra, pela promoção da marina.

O desenvolvimento do turismo de iates na Figueira da Foz passa, segundo um investigador da Universidade de Coimbra, pela promoção da marina local e criação de condições, hoje praticamente inexistentes, para aquele segmento. –

Autor de uma tese de doutoramento intitulada “O Turismo de Iates – Estratégia de Desenvolvimento para a Figueira da Foz”, Luís Silveira, investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT), alega que o município do litoral do distrito de Coimbra possui “potencialidades imensas para o desenvolvimento do turismo de iates”, mas frisa que não existe uma estratégia para esse desenvolvimento, quer da parte da Câmara Municipal, quer da administração portuária, que tutela a marina.

“Não há uma estratégia. Quando comecei a entrar em contacto com essas entidades, houve sempre muita abertura, mas não há muita definição do que se quer fazer. Na Câmara Municipal disseram-me que estavam em conversações para trazer cruzeiros de média dimensão, mas é tudo muito experimental. O turismo náutico está identificado como potencialidade [no plano estratégico da autarquia], mas depois não há um plano específico”, disse Luís Silveira à agência Lusa. –

A tese de doutoramento, um documento com mais de 500 páginas e quase 300 imagens, mapas e tabelas, reúne informação variada sobre o setor da náutica de recreio, muita da qual foi produzida pelo autor em trabalho de campo e com base em inquéritos a um painel de 41 especialistas das áreas ligados a atividades e desportos náuticos, gestão, marketing e hotelaria, entre outras. –

O painel de especialistas identifica como “especificidade” vantajosa da marina da Figueira da Foz o facto de se encontrar inserida na cidade – “que, em Portugal, poucas estruturas portuárias de recreio possuem” – e, como pontos fortes, dois em cada três inquiridos (66%) assinalou a segurança do centro urbano da cidade. –

Outro ponto forte é o contexto geográfico nacional (marina como real alternativa no contexto da região centro). Já nas oportunidades, sobressai a proximidade a Coimbra, região vitivinícola da Bairrada e Fátima e a mercados turísticos potenciais e emergentes, e a criação de circuitos turísticos a partir da Figueira da Foz. –

No campo posto, os pontos fracos são a falta de estratégia local para o turismo (42%), falta de serviços no porto de recreio (39%) e fraca divulgação turística. As ameaças recaem sobre a falta de uma estratégia regional para o desenvolvimento do iatismo, ausência de predisposição e iniciativas entre os agentes internos e externos e falta de conhecimento dos decisores. –

Na tese de doutoramento, a Figueira da Foz é definida como uma cidade turística, que possui uma estrutura portuária de recreio, mas que – apesar do fluxo anual de iates provenientes do centro e do norte da Europa para o Mediterrâneo, que passa pela costa atlântica portuguesa – representa uma captação pouco expressiva dessas embarcações, cerca de 700 em 2015 (sensivelmente duas por dia, com maior expressão entre os meses de abril a outubro e estadia de apenas uma noite), mas que demandam à marina local “de forma fortuita” ou pela necessidade de abastecer de mantimentos ou combustível. –

“Não ficam mais tempo porque não há nada que lhes chame a atenção”, adianta. Segundo Luís Silveira, o turismo de iates é um dos segmentos em que a população “tem um dos maiores poderes de compra, é exigente e educada em termos de habilitações literárias” e são necessárias estratégias de curto e médio/longo prazo para captar esse tipo de turismo, desde logo ao nível da informação sobre o porto e a cidade onde chegam. –

Entre as propostas de curto prazo, aponta a colocação de um posto de turismo, “nem que seja virtual”, na recepção da marina, estrutura que diz ser “completamente descaracterizada”, onde os iatistas apenas cumprem uma formalidade. –

“Há outras coisas simples, como a publicitação da marina e da cidade em sites internacionais a que os iatistas acedem, em zonas costeiras ou noutras marinas que são ponto de partida, como em França e na Holanda”, advoga. –

Outras medidas, onde se enquadram algumas de cariz mais técnico relativas a acessibilidades na própria infraestrutura de recreio, passam pela criação de um cartão de fidelização aos utilizadores da marina, que possa, por exemplo, ser extensível ao comércio local – setor onde Luís Silveira diz haver a perceção de que a marina é importante e se deve desenvolver, “mas só isso” – e serviços associados “ao iatista que queira conhecer a região”. –

“Até podia haver, por parte do porto, alguém formado em turismo ou com conhecimento de línguas, e não há. É uma coisa básica. Ter funcionários a falar alemão, por exemplo, faz toda a diferença”, sustenta Luís Silveira. –

Nascido nos Açores e sem possuir uma ligação específica ao mar, Luís Silveira começou a interessar-se pelo iatismo ainda em criança, quando passava férias com os pais na ilha do Faial, onde a marina da cidade da Horta “é uma referência” para os turistas. –

“Um dos meus objetivos desde que vim para Coimbra foi que tudo o que fizesse, em termos de trabalhos [académicos], potencialmente, pudesse ser utilizado, ter um caráter prático”, afirma, aludindo à tese de doutoramento. –


Copy:https://www.dinheirovivo.pt/- Dinheiro Vivo/Lusa