OPINIÃO DE CÉLIO FURTADO : EXPRESSO 222

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Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br

Escrevo na tranquilidade de minha casa, ouvindo canto gregoriano e refletindo sobre as coisas boas da vida, estar saudável e ter boas lembranças também.

E os planos para o futuro? Sim, também os tenho, agradecer a Deus a saúde, a vida simples e confortável e, certamente, a consciência tranquila e a percepção de que estou “combatendo o bom combate”.

O futuro faz parte de nossas ocupações, pois quando se fala em planejamento, tentamos “puxar” o tempo para nós, antecipar coisas tão dispersas e difusas, além de considerarmos que o futuro a Deus pertence.

Claro que sempre levo em consideração outro lembrete também importante de que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Também gosto de cantarolar aquele samba antigo que serviu de senha para o desencadear da luta heroica, porém desigual que dizia: “quem samba fica, quem não samba vai embora”.

Porém, sempre me vem à lembrança aquela canção “Expresso 222”, que me aparece em todas as reflexões futuristas, que começa mais ou menos assim: “começou a circular o Expresso 222, da Central do Brasil, que vai direto de Bonsucesso até o ano 2000”.

Sim, na década de setenta, eu vivi no Rio de Janeiro, como estudante, e lembro-me bem da Central do Brasil, no outro lado o Campo Santana e ao lado o Ministério do Exército, um belo prédio, que lembra aquelas edificações sóbrias da antiga União Soviética.

Nunca andei de trem no Rio de Janeiro, porém, conhecia a Estação Leopoldina, ali, relativamente perto da Rodoviária Novo Rio e, próximo à entrada de São Cristóvão, onde se pegava o ônibus pra ir pro Fundão, depois do jogo do Maracanã, ao se atravessar a pé a Praça da Bandeira.

Também me lembro de Bonsucesso, a Praça das Nações, o time do Bonsucesso, com a sua camisa rubro anil como se fosse as cores do Marcilio Dias de Itajaí, adversário do meu time, o Barroso.

 

Em Bonsucesso, nós moradores dos Alojamentos de Estudantes da UFRJ, no Fundão, íamos com frequência, tomar um sopão, nutritivo, encher a pança e voltar pelo ônibus 901, ou comer algo em um “pé sujo”, nome carinhoso que se dava aos restaurantes mais populares e democráticos, alguns com música ao vivo tocando samba.

A musica Expresso 222 já me remetia, se bem me lembro, a pensar o futuro e a indagar aos deuses do tempo, como eu estaria em 2022, tempo presente, agora, sem saber que uma grave pandemia marcaria indelevelmente, nossa era.

Pensar o futuro nos remetia necessariamente ao pós-ditadura militar, a vida adulta, o futuro do Brasil e também como eu estaria fisicamente, pois eu era um jovem magro, ágil e saudável, o que me incomodava, eventualmente, era alguma dor de dente. Recentemente, encontrei uma antiga foto de 1976, magro, barbudo, um olhar firme e decidido, algo como se tivesse pronunciado bem baixinho: “é preciso estar atento e forte, não temos tempo para temer a morte”. São simples lembranças, reflexões sobre a minha vida, uma modesta biografia.

 O Expresso 222 continua circulando!

Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br

NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores