Um dos maiores velejadores do mundo, integrante da elite mundial, foi tripulante o primeiro barco brasileiro a participar de uma Ocean Race, o histórico Brasil. Pois é, o brasileiro Joca Signorini – já participou de cinco edições da maior regata da terra. Signorini concedeu esta entrevista ao Regata News/Mercado de notícias em sua casa em Estocolmo, Suécia!
Adilson Pacheco – editor
RN/MN — Em quais Times e Regatas tem se dedicado nos últimos tempos?
Joca Signorini – Nos últimos anos tenho me dedicado à classe oceano principalmente em barcos da categoria Maxi, competindo nas principais regatas do circuito internacional como: “Fastnet Race”, “Sydney to Hobart”, “Middle Sea Race”, “Caribbean 600”, “Maxi Worlds”, “Newport to Bermuda”, “Giraglia Race”, entre outras. Eu faço parte das equipes do barco americano Rambler 88 (88 pés desenhado por JK) e do australiano Black Jack 100 (100 pés desenhado pelo Rachel Puch), nos quais minha função é a de timoneiro e watch captain.
RN/MN — Você está na Suécia em casa, qual é sua próxima regata?
Joca – Sim, vivo em Estocolmo. Com a pandemia e o cancelamento da maioria das regatas praticamente não viajei este ano. O lado positivo foi que consegui passar muito tempo com minha filha e minha esposa (ensinei minha filha a velejar neste verão). Também participei de algumas regatas e eventos locais aqui o que foi bem interessante.
Em tempos normais, agora em outubro eu estaria terminando a temporada europeia com o Rambler 88 na “Middle Sea Race”, e me preparando para cumprir o calendário do Black Jack 100 com a “Sydney-Hobart” como foco principal, mas a situacao na Austrália ainda está bem indefinida.
RN/MN — Você participou de quatro Ocean Race – e foi um dos tripulantes do Brasil 1. Como vê o esporte náutico internacional?
Joca – Acho que em geral em alta, com diversas competições e eventos bem organizados em inúmeras categorias. Também acho muito positivo que a Vela (velejadores/as, equipes e eventos) tenha abraçado forte a questão da conservação do meio ambiente e dos oceanos.
O esporte deu um salto muito grande em tecnologia em algumas categorias, principalmente nos barcos da Copa América, Imoca 60 e Moth (todos com tecnologia de “foiling”).
RN/MN — Com grandes velejadores – o que falta para o Brasil chegar no topo do esporte náutico – como referência náutica?
Joca – O Brasil tem estado no topo da Vela de competição há muitos anos. Temos velejadores/as alcançando resultados e posições de destaque em diversas competições e equipes nas principais categorias internacionais como: Olimpíadas, Volta ao Mundo, Copa América etc. O nível no Brasil é alto, mas a quantidade de velejadores e projetos ao redor da Vela ainda é bem pequena se comparada a outros países.
RN/MN – – Seu maior desafio:
Joca – Nos anos que antecederam às Olimpíadas de Sydney 2000, eu estudava engenharia, treinava sozinho no Rio e tinha o sonho de representar o Brasil. O problema é que meu maior adversário pela vaga era o atual campeão olímpico e mundial, um verdadeiro atleta profissional e a caminho de se tornar um dos melhores velejadores da história … Robert Scheidt.
Foi um período difícil, com muitas dúvidas na minha cabeça e quase optei pela engenharia. Mas aproveitei o aprendizado em ambos os lados: na Universidade e velejando contra o Robert. Com certeza me ajudaram muito durante a minha carreira.
RN/MN — A pandemia te assustou – mais do que as grandes ondas quando estais em uma regata?
Joca – Acho que a pandemia assustou todo o mundo. Mostrou que assim como quando estamos em alto mar, as coisas podem mudar drasticamente de uma hora para a outra e é importante saber priorizar e manter o rumo.
RN/MN — Quando começou o gosto pelo mar, vida esportiva?
Joca -Minha paixão pelo mar e pela vela começou bem cedo. Sempre gostei de praticar esportes, mas a partir dos 10 anos fiquei completamente fissurado pela Vela.
RN/MN — Que livro estais lendo?
Joca -Acabei de ler “Factfulness” de Hans Rosling.
RN/MN — Que episódio em uma regata que mais marcou sua história no mar?
Joca – Talvez ter ganho a seletiva para a equipe olímpica na classe Finn em 2002 com barco e material emprestados. A partir daquele momento consegui uma estrutura e apoio que nunca tinha tido antes. Minha confiança aumentou e minha carreira como velejador profissional foi crescendo a cada ano. Mesmo sem nenhuma experiência na classe Finn e sem o biótipo ideal, consegui bons resultados nos 2 anos em campanha Olímpica para Atenas 2004, que com certeza foram minha porta de entrada para o Brasil 1.
RN/MN — Você abraçaria projeto de um barco nacional?
Joca – Seria um prazer imenso estar envolvido em um projeto com um barco brasileiro.
RN/MN – Que função – gostaria de ter em um barco nacional?
Joca – Acho que com minha experiência e conhecimentos, gostaria de estar em uma função de liderança.