J.C. Ramos Filho : Não consigo respirar!

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Essa frase ou equivalente a ela, desde que começou a onda da pandemia da covid-19, já estava bem viva no imaginário de uns e efetivamente atormentando e destruindo os pulmões de outros. Pessoas foram levadas, às pressas, para o serviço médico na esperança de encontrar um respirador que viesse a salvar suas vidas, voltando a respirar naturalmente… ou infelizmente seguindo para outra dimensão sem saber se lhes foram subtraídas algumas horas ou até alguns anos de vida.

Às vezes, por não chegar a tempo no hospital ou por falta de equipamento sou ainda pelo fato de alguém ser obrigado a seguir uma ordem protocolar e até mesmo por cair sobre os ombros do pessoal de saúde a responsabilidade de escolher quem deveria receber um respirador. Em suma, fazendo a diferença entre viver ou morrer.

Todavia, essa frase ganhou uma nova conotação e significado em 25 de maio de 2020, quando em Minneapolis (EUA), George Floyd foi impedido de respirar livremente, mesmo quando, quase agonizando, dizia: “não consigo respirar”!

Ele nunca mais respirou!

É muito provável que, em toda a sua vida negra, muitas vezes alguém já havia tentado fazer com que ele parasse de respirar, por meio de uma atitude silenciosa ou mesmo um olhar cheio de significados quando ia à farmácia, ao supermercado, no metrô, no emprego ou até mesmo em uma festa ou em um parque qualquer.


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Mas até aquele dia ele teimava em respirar.

Porém, naquela tarde fatídica, a subtração do ar de seus pulmões foi filmada e depois vista por milhões e milhões de pessoas pelo mundo afora.

E foi então que pessoas, independentemente de raça ou da cor, classe social ou faixa etária, começaram a sentir faltar em seus pulmões o mesmo ar cuja subtração fora crucial para George Floyd.

A história de George Floyd poderá até virar filme, mas será baseado em fatos reais. E provavelmente não será em preto e branco.

A vida continuará a correr e a luta pela liberdade e pelo direito de respirar livremente também. A busca de força e empoderamento é que mantém de pé todas as pessoas que sonham e acreditam em um mundo melhor e mais humanitário. Vai ter sempre alguém no meio do caminho a lhe ameaçar, dizendo que, nem que seja no fim de sua jornada, vai cortar o seu oxigênio.

Você precisa não acreditar nisso, seguindo em frente sem medo, pois se você não demonstrar medo é bem possível que, além de conseguir o direito de respirar livremente, ainda possa ajudar que outros sejam livres para respirar lá adiante. Talvez todas essas manifestações em nome de George Floyd possam estar usando, simbolicamente, a vassoura do coletivo para limpar e lavar as calçadas do universo com um simbólico banho sanitário e social. E assim possam tornar mais arejado o ar que alimentam os pulmões da vida.

 


J.C. Ramos Filho
Poeta Maranhense
Criador da Camisinha Poética
Embaixador da Paz –Cercle Universel des Ambassadeurs de LA PAIX
Suisse / France


NR: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.