A quase nove meses do início desta corrida de volta ao mundo já há pelo menos uma equipa com o barco completamente pronto a treinar em Portugal
A equipa chinesa Dongfeng assume desta vez abertamente o objetivo de vencer a Volvo Ocean Race (VOR) e uma coisa já ganhou: é a primeira a ter o barco já completamente pronto para começar a treinar-se.
Na semana passada chamou os jornalistas para uma conversa e uma muito ventosa volta no Tejo. O barco – como quase todos os outros que se apresentarem para a regata – foi nas últimas 15 semanas melhorado no estaleiro (“Boatyard”) que a organização montou na Doca de Pedrouços.
Os 35 a 50 mecânicos (quase todos estrangeiros) que agora fazem o refit (aperfeiçoamento) dos sete veleiros de 20 metros usados na última edição desta regata de volta ao mundo transformaram as instalações da antiga lota numa enorme linha de montagem, que todos os barcos vão percorrendo, em sucessivas operações de melhoramento. No mesmo estaleiro será montado o oitavo barco da frota, cuja construção está a terminar, em Itália.
Na edição 2014-15 da VOR, o Dongfeng, com o francês Charles Caudrelier como skipper, foi a grande surpresa da frota. Ninguém esperava nada da equipa – até ao momento em que se percebeu que estava sempre nos lugares da frente, disputando a liderança com o Abu Dhabi (equipa vencedora e que desta vez não reaparecerá). Na etapa Aukland (Nova Zelândia)- Itajaí (Brasil), a maior da regata, partiu o mastro, quase a chegar ao cabo Horn, chegando em último e perdendo muitos pontos.
Pascal Bidégorry, o navegador, praguejou violentamente na altura: foi esta a sua segunda tentativa falhada de atravessar o cabo Horn, algo que está para os velejadores como subir ao Evereste está para os alpinistas. Terá na próxima edição da VOR mais uma oportunidade de cumprior o sonho, integrando de novo a tripulação do Dongfeng. Um dos chefes do estaleiro de Pedrouços, o australiano Neil Cox, disse ao DN que tem um amigo que já tentou quatro vezes cruzar o Horn – sempre sem sucesso. Neste momento já tem dificuldades em constituir tripulações: “Ninguém quer ir com ele. Dá azar.”
Caudrelier assumiu claramente que o objetivo agora é vencer: “No ano passado, fizemos a estreia e terminámos em terceiro lugar, este ano o patrocinador pediu-nos para ganharmos. Vamos fazer tudo para isso.” Adiantou ainda que a tripulação será essencialmente a da última edição, incluindo sempre entre dois jovens velejadores chineses. Também pretende ter uma ou duas velejadoras a bordo, entre as quais a holandesa Carolijn Brouwer, que se destacou na última VOR como uma timoneira temível nas regatas costeiras, ao serviço do Team SCA. Lisboa será o principal campo de treino da equipa mas também Lorient, em França.
A Dongfeng foi a segunda equipa a apresentar-se oficialmente para a edição deste ano da VOR, depois dos holandeses da AzkoNobel, que terão como skipper Simeon Tienpont. A princípio os holandeses resistiram à ideia de ter mulheres na sua tripulação (ver coluna ao lado) mas entretanto já cederam.
Entretanto, do boatyard vão sair nas próximas semanas mais barcos, praticamente como novos. Há um projeto de pôr esta infraestrutura a fazer o que faz – mas para outras competições da vela internacional. E fazer ali uma academia de vela oceânica. Havendo investidores, até poderia ficar em Portugal a construção dos veleiros que equiparão a edição da VOR de 2017. Caudrelier quer que sejam trimarãs equipados com foils, os patilhões em forma de “J” que permitem aos veleiros planarem acima da água e serem brutalmente mais velozes.