
O Iº Congresso Brasileiro da Economia Náutica, promovido pela Prefeitura através da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e da Saltur-Empresa Salvador Turismo, realizado ontem no Yacht Clube da Bahia, mobilizou o setor em âmbito nacional e com a participação de representantes espanhóis. Durante o evento foram apresentados diversos aspectos e estratégias que envolvem a ótica global da economia náutica, com ênfase para atividades a serem desenvolvidas na BTS-Baía de Todos os Santos e tendo como horizonte 2017.
O congresso discutiu três premissas básicas para o desenvolvimento do segmento náutico: o institucional, visando dar ordenamento geral às atividades, em termos de incentivos e leis; a infraestrutura, ancorada em estudo que detectou 19 programas e 47 projetos públicos e privados; e o turismo, sob meta de resgatar a condição de Salvador como espaço estratégico para a realização de regatas nacionais e internacionais.
Conforme José Raimundo Zacarias, da Oceanus Náutica, empresa contratada pela Prefeitura para a elaboração do Planejamento Estratégico, “serão contempladas áreas como a cultural, formação de mão-de-obra para equipamentos náuticos, infraestrutura e geração de emprego e renda”, entre outras.
Ele destacou a “posição privilegiada da BTS, inclusive sob os aspectos de ventos e correntes marinhas do Atlântico, entre a Europa e Salvador”. Zacarias apontou, como entrave, a “falta de bases de apoio aos navegantes para reabastecimento e descanso”. O planejamento, todavia, está na pendência da vigência do Comitê Náutico de Salvador. A instância será formalizada na próxima semana, pelo prefeito ACM Neto.
Comodoro do Yacht Club da Bahia – e também vice-presidente da Tribuna da Bahia -, Marcelo Sacramento destacou a importância do I Congresso, tendo em vista a abrangência da cadeia produtiva que envolve a economia náutica. “É um setor que envolve inúmeras atividades com geração de emprego e renda para diversos profissionais no âmbito da indústria de embarcações – desde o stand up aos barcos a motor e à vela e à profusão de acessórios. Na área de serviços haverá maior demanda para marinheiros, mecânicos, fibreiros, capoteiros, eletricistas, lavadores”.
Recurso do Prodetur trará Museu Frans Krajcberg para Salvador
O secretário estadual de Turismo, José Alves, sinalizou 2017 como um “marco para a economia náutica nos 18 municípios que integram a BTS”. O gestor citou a disponibilidades dos US$ 84,7 milhões do Prodetur-Programa de Desenvolvimento do Turismo, dos quais US$ 33 milhões do Governo do Estado e US$ 50,8 milhões do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento. O recurso possibilitará a instalação de estruturas náuticas e culturais, a exemplo da recuperação do Museu Wanderley de Pinho, em Candeias.
Alves adiantou, também, a transferência do Museu Ecológico Frans Krajcberg, de Nova Viçosa para Salvador, para o que, garantiu estar “dependendo apenas de definir um local”. Para a implementação da planta de ações em torno dos recursos do Prodetur foi contratado o consórcio Projetec, de Pernambuco, que vem elaborando estudos e estratégias. Do montante dos recursos, US$ 61 milhões serão para os segmentos náutico e cultural, em torno da BTS, e US$ 23 milhões para promoção e marketing, divulgação e investimentos em eventos.
No município, o secretário de Cultura e Turismo, Érico Mendonça, acenou com a perspectiva da nova gestão municipal, a partir de janeiro de 2017 e apresentou dados como os do dispêndio de turistas na cidade. Segundo Mendonça, que coordenou o Congresso, os turistas estrangeiros gastam três vezes mais que os nacionais de acordo com estimativa levantada em 2015.
A renda auferida com essa movimentação, no ano passado, teria alcançado R$ 8,5 milhões. O impacto do turismo no PIB municipal alcançaria R$ 5 bilhões/ano. Ou seja, a receita turística total em 2015 atingiu os R$ 5,6 bilhões, equivalentes a 10,6% do PIB de Salvador em 2013, com base em dados estimados, de acordo com o fluxo turístico. A média geral de gasto, por indivíduo, gira em torno dos R$ 1.152, mencionou.
O empresário Paulo Thadeu, do estaleiro Real Powerboats, disse que após o Sudeste a Bahia é o principal mercado consumidor de embarcações. Ele fabrica barcos de 22 a 52 pés. Há pouco mais de um ano tem loja própria do estaleiro na área da Baía Marina, como forma de proporcionar contato direto com os clientes, evitando intermediários. Também vice-presidente da Acobarco-Associação dos Construtores de Embarcações, ele mencionou que a demanda para construção de um barco de 60 pés envolve o mesmo número de hora/homem que o demandado para a edificação de um prédio de 12 andares com seus apartamentos.
O empresário enfatizou o diferencial de que “um barco requer apenas um cliente enquanto um prédio, exigirá diversos compradores”. Thadeu entende que “a Bahia deve assumir a dianteira do mercado náutico do País a partir de iniciativas como a do I Congresso, desde que as propostas se consolidem”. Ele apontou a “retração do setor” desde 2015 e avaliou o momento de crise como o de “criação de alternativas”.
Reinaldo Loureiro, da Baía Marina, disse estar há 32 anos à espera de que o desenvolvimento alcance a BTS e “lamentou que o governo tenha optado pela Linha Verde e não por ambas”. Destacou a importância do programa Baía Azul que possibilitou o saneamento básico dos municípios do entorno da BTS.
O projetista, construtor e dono da Marina Porto Real, em Angra dos Reis (RJ), e da Blue Marina, em Belém (PA), acompanhava o empresário Luiz Antonio Sampaio, que constrói a Marina de Todos os Santos, um complexo náutico na enseada da Ribeira, onde havia uma fábrica de mamona, com capacidade para 1.000 barcos, estaleiro para grandes embarcações, escola de formação de mão-de-obra náutica e um yacht club para eventos desportivos e dotada de equipamentos de última geração.
Fonte: http://www.tribunadabahia.com.br/