Alpinista de 18 anos é o brasileiro mais jovem a chegar ao topo de três agulhas do Fitz Roy na Patagônia

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Benjamin Sotero - Patagônoia

Alpinista de 18 anos é o brasileiro mais jovem a chegar ao topo de três agulhas do Fitz Roy na Patagônia

O paulistano Benjamin Sotero realizou o sonho de subir: Guillaumet, de 2.593 metros de altura, Mermoz, com 2.754 metros, e agulha De L’s, com quase 3 mil metros

Conquistar as agulhas do Fitz Roy na Patagônia, localizado na fronteira da Argentina com o Chile, está entre os maiores desafios de escaladores alpinistas no mundo. E o paulistano Ben Sotero tornou-se o brasileiro mais jovem, com 18 anos, a chegar ao topo de três agulhas: Guillaumet, de 2.593 metros de altura, Mermoz, com 2.754 metros e agulha De L’s, com quase 3 mil metros de altitude.

Benjamin Sotero – Patagônoia

 

Ben Sotero explica que no conjunto de Fitz Roy estão algumas das montanhas de alpinismo mais difíceis de escalar, não somente pela altura, mas, principalmente, pelos obstáculos simultâneos que apresenta. “Elas são uma mistura de escalada esportiva e alpinismo alto, que exige técnicas para escalar montanha, enfrentar a neve e os ventos muito fortes, além dos riscos de avalanches”, ressalta o jovem alpinista.
Ele acrescenta que os percursos até o topo envolvem trilhas e escaladas que, considerando ida e volta, levam entre três e quatro dias. “Exige um super preparo físico para carregar os equipamentos, que chegam a pesar 20 kg, além de autocontrole e autoconfiança. Quando paramos à noite, por exemplo, após 15h de jornada, não ficamos em um alojamento ou base que transmita segurança. Mesmo dentro das barracas, precisamos estar presos às cordas, porque o tempo todo ouvimos avalanches acontecendo ao redor, escutamos as pedras rolando e sentimos o vento, que chega à velocidade de 50 km por hora”, conta Sotero.

Benjamin Sotero – Patagônoia

Após conquistar as agulhas, Ben e seus colegas arriscaram por três vezes chegar ao cume do Fitz Roy. Nas duas primeiras tentativas, eles desistiram devido ao frio extremo a risco de congelamento. Na terceira, eles chegaram até a última face antes de virar a montanha para subir. O vento de mais de 120Km/h fez com que retornassem. Foi nesse local, também, que encontraram os corpos dos dois brasileiros que morreram em 2019 durante a escalada: o mineiro Leandro Iannotta e o capixaba Fabrício Amaral. “Foi um momento muito triste. Paramos, prestamos a nossa homenagem a eles, e retornamos”, conta o jovem esportista.
Ben passou mais de 50 dias em El Chaltén, na Argentina, cidadezinha pela qual se encantou. Ele saiu do Brasil no dia 3 de janeiro e retornou no dia 15 de fevereiro. Enquanto esperava pela melhor janela para seguir às montanhas, ele ficou em um alojamento onde escaladores de toda parte do mundo estavam em busca das mesmas conquistas. “Diferentemente da grande maioria, em torno de 100 esportistas, eu era o mais jovem e estava lá pela primeira vez. Apesar de me sentir pronto, preparado, percebi que tudo era muito maior e mais difícil do que imaginava. Os caminhos eram mais distantes, o frio era mais forte, a bagagem era mais pesada e a escalada foi muito mais difícil”, acrescenta Sotero.
No alojamento, também precisou preparar a própria comida junto com os colegas. “Comemos muita batata, de diferentes formas, além de muita massa. Tínhamos que repor as energias. Cada vez que retornávamos de uma escalada, perdíamos cerca de 4 kg de massa magra e gordura corporal. E, durante as escaladas, as refeições eram feitas de salame, queijo e barrinha de cereais ao longo do dia, e comida liofilizada à noite”, revela Sotero.

Este é o período de alta temporada de alpinismo na Patagônia, então, Ben encontrou alguns dos melhores escaladores do mundo no alojamento, e teve a oportunidade de obter muito conhecimento, ouvir de perto as histórias e escalar ao lado de um dos maiores alpinistas da história da escalada esportiva, que já conquistou o cume do Fitz Roy duas vezes: o brasileiro Eduardo Formiga.
“Fiquei muito feliz com as primeiras experiências, foi uma oportunidade incrível. Apesar de todas as dificuldades, elas só me inspiraram a treinar ainda mais para voltar à Patagônia em 2023 e tentar novamente o Fitz Roy”, revela Sotero. Ele acrescenta, ainda, que os planos são seguir para o Colorado em meados de abril para trabalhar nos Estados Unidos neste ano, além de treinar nas melhores academias de escalada do mundo. Depois, quer cursar faculdade de Biologia ou Geologia.
Ben Sotero mora em São Paulo, na região Sul da capital, e a paixão pela escalada surgiu aos 10 anos. Desde então, suas férias, passeios entre amigos e destinos turísticos inevitavelmente incluem rotas com alpinismo.

O sonho do Fitz Roy veio com a prática e envolvimento no esporte ao longo dos oito anos. Em 2019, quando perdeu dois colegas brasileiros nessa mesma travessia, entendeu que deveria treinar mais intensamente e preparar os utensílios necessário com rigor redobrado. “São itens muito caros. Saí do Brasil com duas mochilas que deveriam somar uns R$ 60 mil, aproximadamente”, revela Sotero.

Filho de mãe americana e pai brasileiro, o garoto teve o apoio da família, mas precisou batalhar por conta própria uma parte do orçamento destinado à viagem. Uma forma que os pais adotaram para educar com a responsabilidade por suas escolhas.
Durante a pandemia, com a academia onde sempre treinou estando fechada, ele criou uma parede de escalada na própria casa, permitindo manter o esporte ativo e o condicionamento aprimorado.

Instagram: @ben.sotero