Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo nesse início de novembro, na tranquilidade de minha casa, ouvindo Chopin (Marcha Fúnebre), na exuberância e magia do piano.
A escolha do tema musical tem a ver, naturalmente, com os dias que se seguem, Finados, com grande movimentação nos cemitérios, flores, velas e diversas arrumações nas sepulturas dos entes queridos.
Um momento importante na vida moderna onde as pessoas dedicam um tempo para o exercício da memória, lembrança dos entes queridos que nos deixaram pelo menos dessa vida cotidiana onde respiramos, bebemos e comemos do pão nosso de cada dia.
Sempre que posso vou ao cemitério da Fazenda, onde repousam muitos entes queridos, entre eles, naturalmente, os meus pais, e agora, recentemente, o meu irmão mais velho, em morte provocada pelo terrível coronavírus.
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A morte sempre está presente em nossas vidas, falecimento cotidiano de gente conhecida e gente simples, “anônimas”, pois sabemos que todos nós iremos “para o mesmo buraco”, ainda que a tecnologia moderna apresenta a alternativa da cremação, um processo simples onde o corpo é incinerado e transformado em cinza, vai para uma caixinha ou é espalhado.
Nessa época do ano sempre nos vem a profunda frase “lembra-te homem de que és pó e ao pó voltarás” uma alusão à fragilidade e efemeridade da vida humana.
A morte sempre teve uma presença importante em minha vida, desde a infância, não como tragédia, pois, devo confessar que o Criador até o presente momento tem me dado uma existência venturosa e feliz, sou um privilegiado ou como se diz “mais sorte do que juízo”.
Eu sempre acompanhava a minha mãe nos enterros e velórios, uma cerimônia rica de simbolismo. Minha saudosa mãe tinha o hábito religioso de confortar e rezar junto com as famílias enlutadas e eu, como o filho mais novo, o caçula, sempre acompanhava e aprendia o singelo ritual da despedida. Eu, criança, não entendia muito as coisas, porém, me impressionava os choros e os cantos apropriados ao momento tipo “Segura na mão de Deus e vai…”.
Naturalmente, desconhecia toda e qualquer reflexão metafísica sobre a morte, seu significado transcendental, suas múltiplas interpretações, porém, tinha na minha intuição infantil de que as pessoas falecidas iriam para o Céu, e que Deus na sua infinita misericórdia, perdoaria a todos.
Lembro-me bem dos velórios nas casas simples do povo, o caixão na sala principal, as pessoas se revezando para irem na cozinha para tomar café, ou lá fora, no quintal, as diversas rodas de conversa, não necessariamente sobre o tema da morte.
Também me impressionava muito os enterros, a “caleça” preta conduzindo o caixão e as pessoas atrás, se “ricas” de automóvel, se “pobres” de bicicleta e a pé.
A gente media a importância do falecido pelo tamanho da fila, eu ficava sentado no muro da minha casa vendo o enterro passar, um espetáculo indescritível, até os cavalos revelavam uma certa tristeza.
Bons tempos, tudo passa, pois sabemos que a vida é uma “piscada de Deus”.
Esse início de novembro é muito convidativo para reflexões.
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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