A 48ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela foi definida neste sábado (31), no Yacht Club de Ilhabela (YCI), após cinco dias de regatas. O maior evento da modalidade na América do Sul contou com 81 barcos divididos em oito classes.
Depois da virada de tempo que levou frio e vento intenso a Ilhabela (SP) na quarta-feira e cancelou as regatas na quinta-feira, o vento voltou a ficar mais ameno. A manhã de sábado (31) amanheceu com os termômetros mais quentes.
As regatas foram disputadas na Pontas das Canas com ventos de média intensidade com rajadas de 15 nós. As provas de barla-sota para HPE, C30, ORC e RGS, todas com quatro pernas. Já para o restante da flotilha foi percurso médio.
A briga pelo título geral foi decidida apenas nas últimas provas. Com maior regularidade na competição, o +Bravíssimo, comandado por Luciano Secchin, sagrou-se campeão pela primeira vez, levando a taça para o Espírito Santo. Além dele, também estavam no páreo o moderno Phoenix do multicampeão Eduardo Souza Ramos, o Xamã-Matrix Energia de Sergio Klepacz e o Rudá de Mário Martinez.
A persistência fez dos capixabas os mais novos vencedores da tradicional competição, que em 2021 marcou o retorno em Ilhabela (SP) após a fase sem regatas em função da COVID-19.
“Ganhamos a competição sem ganhar nenhuma regata. O que mandou foi a regularidade. Na quarta-feira, quando ventou muito, conseguimos nos defender, diferente dos barcos menores. Nos dias em que ventou pouco, fomos bem”, definou Luciano Secchin, comandante do +Bravíssimo.
Na categoria A da ORC, um dos barcos novos apresentados na Semana de Vela de Ilhabela ficou com o terceiro lugar. O Phytoervas 4Z, um Soto 40 remodelado, trouxe a bordo o comandante Alexandre Wissenbach e outros nove velejadores com experiência em regatas de alto nível em diversas classes, a maioria com resultados expressivos em edições anteriores de Semana de Vela de Ilhabela. “Foi uma estreia ótima, acima da nossa expectativa. Agora a régua subiu. Vamos disputar o Brasileiro de ORC, e a expectativa é alta”, falou Marcelo Bellotti, do Phytoervas 4Z.
Campeão na categoria Silver da ORC, o comandante do Lucky/Alforria destacou a variação climática como ponto alto da semana de competição. “Começamos meio mal, mas tivemos um grande crescimento ao longo da disputa e saímos vitoriosos. Depois de dois anos parados, a Semana de Vela foi um verdadeiro sucesso exatamente pelas diferentes condições de vento”, disse Edmar Alves.
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As disputas equilibradas marcaram as regatas da maioria das outras sete classes, dando o tom do evento. Com quase cinquenta anos de história, a maior competição de vela oceânica da América do Sul mostrou que ainda tem fôlego para surpreender, trazendo novidades para as raias e atraindo novos competidores.
Mesmo com a pandemia de coronavírus e os rígidos protocolos de segurança, o Yacht Club de Ilhabela (SP) recebeu 81 barcos e quase 600 velejadores. Entre eles, cerca de um quarto estreou este ano no litoral paulista, indício de que o evento segue cumprindo o papel de fomentar o esporte no País.
Decisão na última regata na Mini Transat
Uma das novidades da Semana de Vela de Ilhabela, a classe Mini Transat foi criada para travessias transatlânticas em solitário. Mas mostrou que pode levar mais emoção às raias internas de Ilhabela, com uma disputa definida apenas na última regata.
O Bloody Jones de Jonas Gomes e Jacaré de Pedro Fukui chegaram ao dia final da competição empatados no primeiro lugar, com o Daddy-O de José Chrispin a um ponto de distância. A vitória acabou nas mãos do Jacaré.
”Largamos na frente dos barcos grandes, inclusive com Atrevida vindo atrás. Era preciso ganhar a regata para levar o título da Semana de Vela de Ilhabela. Pedro Fukui foi maluco se metendo no meio deles, mas deu certo”, contou Kan Chu, do Jacaré.
“Foi uma semana ótima. Começamos ganhando a primeira regata, mas na sequência o Jonas, do Bloody Jones, usou uma tática melhor que a nossa. No fim, erramos menos e vencemos”, emendou o comandante Pedro Fukui.
Multicascos
Na classe Multicascos, uma das mais novas participantes da Semana de Vela de Ilhabela, nenhuma surpresa. O Maré XX, comandado por Benoit Joufflineau, liderou de ponta a ponta, com vitória em todas as regatas.
“Foi uma semana muito boa, com vento fantástico. Pena que tivemos poucos barcos na Multicascos. Estávamos em três. Um não pôde vir por motivos pessoais, o outro quebrou, e no final da competição só sobramos nós. É muito importante para a classe participar de competições como a Semana de Vela de Ilhabela, e muito gostoso, também”, defendeu o comandante Benoit Joufflineau, francês da região da Normandia radicado há 30 anos no Brasil.
Emoção entre os amadores na Bico de Proa
Uma das classes mais populares da vela oceânica, a Bico de Proa levou a flotilha mais numerosa à Semana de Vela de Ilhabela, enchendo a raia com 20 veleiros. A categoria atrai velejadores amadores, geralmente familiares ou amigos em busca de diversão.
Mas a competitividade não ficou de fora, com uma briga bem acirrada pela liderança geral. O BL3 Mangalô levou a melhor, depois de se alternar no primeiro lugar com o Super Bakanna ao longo da semana, após a vitória na última regata.
“A BL3 competiu com dois veleiros. O Urca foi o quarto geral na classe RGS, e o Mangalô venceu na Bico de Proa. Foi uma vitória muito emocionante. Precisávamos colocar um barco entre nós e o Super Bakanna, e isso foi possível. Terminamos a última regata em primeiro, com o Susso em segundo e o Super Bakanna em terceiro. Empatamos na pontuação e vencemos por critério de desempate”, analisou o capitão Pedro Rodrigues.
“Foi uma semana fantástica, com ventos muito variados. Tivemos uma temperatura mais amena no inicio, muito frio na quarta e quinta e hoje novamente um tempo mais ameno, com vento leste clássico na Ponta das Canas. Foram excelentes regatas, com uma organização maravilhosa.”
Campeão na categoria B da Bico de Proa, o H2Orça chamou a atenção pela animação da equipe durante toda a disputa. “Velejar é um motivo de alegria, é saúde, amizade, competição”, disse o comandante Hilpert Zamith.
A equipe contou vários alunos de escolas de vela, muitos deles estreando a bordo de um veleiro. “Nós trazemos os alunos para aprenderem a velejar e já colocamos na Semana de Vela. E aí vemos a evolução deles. Os garotos chegam ao último dia de competição afiados. Temos um que virou proeiro, até subiu no mastro, e nunca tinha velejado”.
O comandante Hilper Zamith também destacou a importância da classe para o desenvolvimento da vela oceânica. “É a classe para quem quer entrar numa competição, mas não tem muito conhecimento nem apoio de empresas. Aqui eles podem aprender a manejar o barco, entender melhor as regatas, e partir para outras classes. A Bico de Proa é a porta de entrada da vela oceânica”, defende.
Domínio na RGS
Terceira classe a levar mais veleiros para Ilhabela este ano, a RGS tinha um nome a ser batido: o Zeus, campeão geral em 2019. E a tripulação comandada por Paulo Fernando de Moura confirmou o favoritismo, vencendo a competição de ponta a ponta. O Zeus também ficou com a vitória na categoria RGS A, enquanto o Beleza Pura 2, comandado por Felipe Ferraz foi o campeão na B e o Brazuca de José Rubens Bueno ficou com a vitória na C.
“A gente estava um pouco afastado por conta da pandemia de coronavírus. Ficamos muito tempo sem velejar. Quando a Semana de Vela foi confirmada, a equipe ficou super empolgada em participar. Essa empolgação nos ajudou a vencer”, analisou Gereba Carvalho, do Zeus.
Campeão na categoria B com o Beleza Pura 2, Felipe Ferraz comemorou a conquista que deixou a equipe a poucos passos do segundo lugar geral.
“O nosso objetivo era vencer na categoria B e ficar bem posicionados na classificação geral. E foi tudo ótimo, conseguimos a vitória na categoria e terminamos no geral em terceiro, brigando pelo segundo lugar. Valeu a pena!”, disse. O comandante do Beleza Pura 2 reforçou que a classe RGS prepara novidades para a próxima temporada.
“É uma classe que abraça todos os tipos de velejadores e barcos. Temos super máquinas como a do Zeus, campeão geral, e temos barcos com churrasqueiras, como o nosso. Estamos planejando bastante coisa para a RGS.”
Equilíbrio da C-30
Na classe C-30, a briga pelo título também foi equilibrada. O Kaikias foi mais regular, com quatro segundos lugares, e tomou a frente nas últimas regatas da Semana de Vela de Ilhabela. Ficou com o título da competição, deixando o Caballo Loco de Mauro Dottori, campeão brasileiro da categoria, com o segundo lugar. O Zeus Team, comandado por Inácio Vandresen, completou o pódio na terceira posição.
”Muito contente em ser campeão e poder ter a bordo velejadores de Ilhabela. A vela fomenta a cidade e forma campeões. Espero que mais atletas saiam das classes de oceano aqui e em outros barcos”, comemorou Beto de Jesus, tático do Kaikias. ”Ganha essa competição tem um gostinho especial, pois enfrentamos equipes entrosadas e muito competitivas, como o Caballo Loco. Foi a nossa primeira conquista na classe!”
Quebra de hegemonia na HPE 25
A disputa da HPE 25 começou para valer na quarta-feira (29). A classe havia corrido a Regata Renato Frankenthal, no domingo, e teve um dia de descanso na terça-feira, início das provas de barla-sota. Com Luis Fernando Staub no comando, o Espetáculo entrou na disputa para vencer, e brigou pela primeira posição desde o início. Com quatro vitórias e três segundos lugares, consolidou a liderança já a partir de quinta-feira, derrubando a hegemonia do Ginga de Breno Chvaicer, hexacampeão em Ilhabela, e vice-campeão nesta edição. O terceiro lugar ficou com o Salô, do comandante Marcelo Zemach.
“Temos um projeto de cinco anos, trabalhando junto no equipamento, nos treinos da equipe. Esta conquista é o resultado de muito trabalho”, destacou o comandante do Espetáculo, Luis Fernando Staub. “As regatas foram ótimas, muito técnicas, com todo tipo de vento e de mar, o que exigiu bastante do barco e da tripulação. Entramos muito focados nas regatas de hoje, olhando cada pequeno detalhe, para vencer. Agora é treinar para o Brasileiro de HPE.”
Dono da raia entre os Clássicos
Entre os barcos históricos presentes na Semana de Vela de Ilhabela, o Kameha Meha dominou a raia absoluto, com vitória em todas as regatas, superando o Atrevida, comandado por Alexandre Ferrari. Um dos ícones da vela brasileira nos anos 1970, o barco já disputou a regata Cape Town to Rio. Além do comandante Mark Essle, a tripulação conta com Gabriel Borgstrom, Mark Essle e Paulo Bilyk que já foram duas vezes campeões da competição no Curupira, um ILC30. Quem completou o pódio, em terceiro lugar, foi o Baforada 3, de Elymara Santos.
“Antes de mais nada, é um prazer imenso velejar na Clássicos, uma classe em expansão, com vários barcos. Ela vai muito além do Atrevida, tem embarcações de todas as idades e muito futuro pela frente. É uma classe para quem gosta de barcos com história, e que possibilita percursos mais agradáveis de regata”, defende Mark Essle. “Nós tivemos um desempenho excelente, estávamos todos muito afinados a bordo. E trouxemos gente nova para velejar conosco. Mas a grande atração da classe será daqui a dois anos. Será a 50ª edição da Semana de Vela, e marcará os 100 anos do Atrevida.”
Variedade e raia cheia na capital nacional da vela
Um dos motivos que fazem de Ilhabela a capital nacional da vela é a variedade de condições climáticas e raias de competição no litoral paulista. Como nos anos anteriores, a 48ª edição do evento teve um pouco de tudo: frio e ventos com mais de 20 nós, sol e brisa leve, regatas de percurso médio e longo e barla-sota. As diferentes situações exigiram resistência e técnica dos velejadores.
“Monotonia não existe neste lugar. A gente tem de tudo, até o dia em que você fica boiando lá, esperando o vento. Mas depois vem aquela pauleira, as regatas curtas, as regatas longas, as regatas mais técnicas, aquelas que são mais loteria porque o vento entrou de um lado, depois entrou de outro”, destacou Mauro Dottori, comandante do Caballo Loco, campeão brasileiro da classe C-30, e organizador do evento. “Alguns barcos são melhores que outros em determinadas condições. Isso traz o equilíbrio para a competição.”
Mauro Dottori celebrou ainda a chegada de novos competidores a Ilhabela, num momento marcado pela pandemia de coronavírus, com rígidos protocolos de segurança.
“Num ano tão complexo como esse, trouxemos 81 barcos, gente que veio de Florianópolis, de Vitória, do Rio de Janeiro, de Santos, enfim, de todo o nosso litoral. Quanto vale isso? Esse é o nosso objetivo, fazer com que a Vela continue em alta, e com disputadas cada vez mais equilibradas”, apontou Mauro Dottori. “Mas, principalmente, queremos que os velejadores venham não para ganhar, mas para se divertir, respeitar uns aos outros e sentir como esse litoral, um dos mais bonitos do Brasil, recebe a todos de braços abertos.”
Campeões de 2021
ORC Geral – +Bravíssimo
ORC A – Xamã/Matrix Energia
ORC B – +Bravíssimo
ORC Silver – Lucky/Alforria
RGS geral – Zeus
RGS A – Zeus
RGS B – Beleza Pura 2
RGS C – Brazuca
Bico de Proa Geral – BL3 Mangalô
Bico de Proa A – BL3 Mangalô
Bico de Proa B – H2Orça
Bico de Proa C – Super Bakanna
C30 – kaikias
HPE25 – Espetáculo
Clássicos – Kameha Meha
Mini Transat – Jacaré
Multicascos – Maré XX
Foto: Caio Souza | On Board Sports