Célio Furtado – Engenheiro e professor da Univali celio.furtado@univali.br
Escrevo neste Dia do Trabalho, fim de tarde, a temperatura já está caindo um pouco, estamos no outono.
Assisti a Santa Missa na Igreja da Vila Operária, pela manhã, pouca gente, muita cautela, insegurança pois estamos no auge da pandemia. Atingimos a assustadora marca de quatrocentos mil óbitos, no Brasil, quase duas vezes a população de Itajaí.
Apesar da chegada gradual das vacinas, ainda não podemos falar da existência de uma luz no final do túnel, muitas mortes diárias e quase todo mundo tem conhecidos, parentes, pessoas que morreram devido ao coronavírus. Daí pouca gente no dia do Trabalho, numa festa tradicional de nossa cidade, pelo menos desde o inicio da década de vinte, do século passado, ou seja, logo estaremos comemorando o centenário da Festa da Vila.
Bairro que já foi operário, nos modelos das vilas industriais, o primeiro loteamento planejado de Itajaí.
Naturalmente, mudou a paisagem urbana, e a ida e vinda de bicicleta de onde moro até a igreja da vila, distância pequena, encontramos casas antigas, ruas que ainda guardam os traços de um passado recente. De fato, tudo estimula a memória e a tentação de escrever algo a respeito, o campo do Barroso, a rua Uruguai, o Beco do Inferninho onde nasci; são marcos concretos, limites, extremas de fases da minha vida, onde tudo desembocava na Igreja Matriz.
Porém, hoje o pensamento percorre o Brasil concreto, atual, confuso e indefinido, perdido da vanguarda econômica e politica mundial. Temos um desemprego enorme, subemprego, gente subutilizada e ociosa o que aponta para uma estagnação de difícil reversão.
Prevalece uma percepção do mundo lá fora de que estamos perdidos, desorientados, nós que já fomos o “país do futuro”, um emergente respeitado, que inspirava tanto otimismo. A nossa inserção no mundo moderno e dinâmico torna-se mais difícil, pois inspiramos pouca credibilidade nos agentes externos, investidores e formadores de opinião, gente dotada de instrumentos matemáticos, econômicos, estatísticos, peritos no desenvolvimento mundial.
Padecemos de um forte desequilíbrio fiscal, um custo Brasil excessivo, sobrando pouco para o investimento em infraestrutura e qualificação profissional, no que se denomina de capital humano.
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Perdemos o rumo, ainda que sejamos bons exportadores de alimentos e produtos primários, porém, pouco impacto no desenvolvimento interno, nosso crescimento do PIB é modesto. Gosto das análises de conjuntura, procuro acompanhar os analistas, acredito na racionalidade do pensamento econômico, nos diagnósticos, e tudo converge para uma baixa produtividade sistêmica, baixo investimento em inovação tecnológica, em inteligência artificial, nas fronteiras do conhecimento cientifico, daí perdermos a acirrada corrida entre as grandes potências mundiais.
Nós, intelectuais, temos o dever ético de compartilhar ideias, de promover o debate, sem qualquer espírito de arrogância ou revanchismo, procuro fazer sempre, enquanto professor, enquanto orientador e formador de opinião.
Ninguém é dono da verdade, vivemos um terreno pantanoso de confusão ideológica, percepções históricas fragilizadas pelo hiper consumo de fake News, factoides produzidos em laboratórios linguísticos sofisticados, pois, o poder dominante atual promove uma lavagem cerebral irreversível.
Uma sutil semeadura de Golpe.
Feliz Dia do Trabalho!
Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br
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