Ricardo Ermel – Foi da equipe de terra do Brasil 1, o gerente do Stopover no Rio, trabalhou para no barco Groupama na primeira parada em Itajai. Faz logística de vários barcos de regata na Espanha. É Boat Captain do SV Camiranga bandeira brasileira que está em Valencia. É especializado em Marinas, Clubes e Eventos; veleja profissionalmente nas classes Star, J70 e Oceano. E atualmente mora na Espanha.
Quinze anos atrás, em quatro de dezembro de 2005 às 6:58h B (GMT+2), o Brasil 1 cruzava lentamente a linha de chegada da primeira perna da Regata Oceânica 2005/2006 que partira em 12 de novembro do Porto de Vigo – Espanha a Cidade do Cabo – África do Sul.
No início de 2004, recordo que velejava na proa do star do Alan Adler, empresário e velejador consagrado (velejador olímpico e campeão mundial na Classe Star em 89), quando comentou e convidou-me a integrar o futuro time brasileiro ao redor do mundo na Volvo Ocean Race 2005-2006. Seria a primeira participação brasileira num projeto desse porte. O Norte era formar e participar da regata com um time de velejadores internacionais onde sua composição obrigatoriamente teria 50% de velejadores brasileiros, enquanto o time de terra seria composto por maioria brasileira, e, com a construção do casco 100% no Brasil. De pronto aceitei! Projeto ousadíssimo que posicionava o iatismo nacional num mundo onde era um misto de habilidades humanas e tecnologia versus a Força da Natureza e dificuldades financeiras.
Os velejadores brazucas não tinham reconhecimento em regatas transoceânicas, por outro lado possuía grandes nomes na vela olímpica. Alan juntava forças com nada menos que Torben Grael, o futuro comandante que dispensa apresentações. O time aos poucos foi sendo montado e divulgado. Primeiramente os outros quatro tripulantes nacionais: Marcelo Ferreira – campeão olímpico, bronze olímpico e campeão mundial na proa do star com Turbina; Kiko Pellicano – bronze olímpico com Lars Grael na classe Tornado (um dos melhores proeiros com que tive o privilégio de velejar); Joca Signorini, representante na classe Finn, André Fonseca, velejador de 49er. Depois embarcaram os internacionais, as figurinhas carimbadas nessa regata: Andy Meiklejhon (NZL), Justin Clougher (AUS), Roberto Bermudez – Chunny (ESP), Stuart Wilson (NZL), e, a única mulher inscrita nessa edição, com uma importante função de navegadora, Adrienne Caholan (AUS).
O time de terra também era composto por bons nomes, como prometido a maioria brasileiro. Horácio Carabelli um super velejador e para mim a referência internacional na engenharia naval, meu grande companheiro de fainas e proeiro consagrado da classe Star, Rony Seifert, e outros grandes nautas Alvaro Souza, Ricardo Freitas, Renato Guedes, Sergio Santos. Herve LeQuilliec (FRA) é o meu legado pessoal que trago dessa participação. Era um dos meus chefes direto, uma pessoa com uma larga experiência em logística em regatas volta ao mundo, hoje um grande amigo. Tenho que mencionar a importante participação da turma do Backoffice: Ênio Ribeiro, Daniel Markus, Ann Viebig, Mauricio Fernandes, Larissa Carelli, Adriana Monteiro, Blandina Viana.
A torcida brasileira se fez presente em todas as etapas da regata. Destaco a importante presença do Boteco 1. Uma turma animadíssima, formada por amantes do iatismo (amantes também de um bom churrasco regado a cerveja) que nos acompanhou fisicamente em todas as paradas da regata. A bandeira representativa (toda azul com um barco estilizado e a vela sendo uma caneca de cerveja), voava de um porto ao outro, e, quando o barco chegava, ela estava lá presente e estendida lado de uma bandeira brasileira. Fiz grandes amigos, com os quais interajo até os dias de hoje.
Rio de Janeiro
A chegada ao Rio de Janeiro foi a mais emocionante, mas deixo essa para comentar em março do o ano que vem. Capetown, para mim foi a perna mais importante, pois mostramos do que éramos capazes. Acreditava-se que o barco só se destacaria nas regatas in-shore, devido ao perfil do time. Mas, o barco navegou 6.400 nm (quase 12.000 km), saindo de Vigo, superou os “doldrums” montou Fernando de Noronha e chegou a África atrás apenas do barco Holanda 1. Em outras palavras cruzou o Atlântico duas vezes, saindo do inverno europeu, entrando no calor tropical, e, terminando no verão africano. Nessa etapa teve barco favorito que abandonou a regata e chegou à Cidade de avião, outro que também abandonou e chegou no porto de navio, um outro que nem largou, e um que registrou um incêndio a bordo, enquanto o Brasil 1 chegava pleno! Calamos a boca de muita gente!
Alicante
O Brasil 1 terminou a competição em terceiro lugar geral, e o barco foi vendido ao time espanhol. O coirmão abandonou a regata após o seu barco afundar na sétima perna entre New York to Portsmouth (Atlântico Norte). Felizmente todos esses tripulantes foram resgatados, pelo segundo barco holandês que vinha um pouco mais atrás. Devido as despesas adquiridas na regata, e a necessidade dos espanhóis em cumprir compromisso com os patrocinadores após a regata a venda do barco foi bom para os dois times. Anos depois após muita água passada por debaixo da quilha, o barco sofreu um outro acidente grave na mão dos velejadores espanhóis, o que comprometeu a segurança da navegação. A melhor forma de homenagear a brilhante participação brasileira, que obteve de longe a melhor pontuação x investimento na regata, foi devolver a pintura original do Brasil 1 e deixá-lo exposto e aberto à visitação em Alicante na Vila da Regata.
Brasil na Ocean Race
Para a minha surpresa, esse ano, um novo barco brazuca aparece na lista de inscritos da próxima edição dessa Regata Oceânica que terá início previsto em outubro de 2022 de Alicante.
Desde já, manifesto meu total apoio ao time SC-Brasil, me colocando à disposição em ajudar no que for preciso, com para o seja atingido o melhor resultado nessa regata.
Aos diretores de empresas que tem alguma dúvida do retorno do investimento em patrocínio num projeto como esse, também deixo aberto o canal comigo para apresentar números que provam que a aplicação é positiva.
Bons ventos, a todo pano!