Opinião do economista Célio Furtado – CONJUNTURA/CONFIANÇA//

0
585

 

6Célio Furtado
*Economista e professor da Univali
celio.furtado@univali.br

Noticia recente  informa que os brasileiros (não é o meu caso) tem meio trilhão de dólares no Exterior, valor declarado oficialmente na Receita Federal. Essa quantia representa aproximadamente 25% do PIB nacional. Também a matéria mostra, num gráfico, a evolução dessa quantia, sempre crescente. Evidentemente, trata-se de um fato preocupante, em vários aspectos; obriga-nos a pensar o quadro atual da economia brasileira. Convém lembrar, inicialmente, que depositar no Exterior é um procedimento normal, compatível com as democracias modernas que possibilita o fluxo de capitais entre as nações, afinal, essa é uma das marcas da globalização. Naturalmente, deve ser declarado o valor, a partir de uma quantia prevista pela lei, tanto que são dados oficiais emitidos pela Receita, a partir das declarações livres e espontâneas dos contribuintes. Podemos ter a tentação de sugerir uma proibição radical desses depósitos no exterior, como alguns países tentaram, tal como a nossa vizinha Argentina, em algum momento de sua história. Não deu certo, pois sempre “o tiro sai pela culatra”, ou seja, aumenta o câmbio negro, as transações criminosas, acirra o apetite das máfias e, normalmente, gera um caos na economia. Isso tudo sem pensar nas represálias internacionais. Particularmente, aprendi nas aulas de Economia que o capital tem uma conduta semelhante ao fluxo da água. Busca sempre o melhor caminho, a melhor oportunidade; é a força da natureza e também a força do mercado,  da livre concorrência, dentro da concepção do liberalismo econômico. Voltemos ao Brasil. Essa vultosa quantia do dinheiro nacional reflete simplesmente uma grande insegurança em relação ao quadro atual, instável e pouco promissor. Como se falava, antigamente, “ a situação está mais para urubu do que para canário do reino”. É natural que o capital busque proteção, segurança e rentabilidade maior, é a lógica dominante, dentro da “regra do jogo”. Há o risco do populismo demagógico, com inúmeras medidas que afundarão ainda mais nossa economia, gerando mais insegurança e instabilidade. Nem todas as pessoas percebem que nada pode ser feito sem desmontar as forças corporativistas que capturaram o Estado, privilégios e mais privilégios, do setor público como um todo. Estabilidade, salários exagerados, aposentadorias milionárias, custos enormes com a máquina pública, uma corrupção incontrolável, isso tudo gera um clima natural de insolubilidade, de falência à vista, sem perspectiva, “sem luz no final do túnel”. Um déficit público crescente, cada vez mais crescente, porque vivemos prisioneiro de um conjunto de corporações poderosas, lobbys competentes e vorazes. Nem todo mundo está consciente de que a maioria dos parlamentares são servidores públicos, ou seja, jamais legislarão contra os interesses egocêntricos dos grupos a que pertencem. Quem entende do assunto, os especialistas, os grandes investidores, cautelosos como sempre, buscam refúgio no Exterior. Ao se reverter esse quadro, com uma escolha lúcida do futuro Presidente da República, seguido de amplo debate, definido uma filosofia de “menos Estado e mais Mercado”, voltará a crescer o investimento nacional e internacional, e esta enorme fortuna aplicada no Exterior, retornará, provocando um vigoroso crescimento nacional, sustentável!


Célio Furtado, nascido em 1955/ Professor da Univali/ Formado em Engenharia de Produção na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Mestre Engenharia de Produção/ Coppe/Ufrj/trabalhou no Sebrae Santa Catarina e Rio de Janeiro. Consultor de Empresa/ Comunicador da Rádio Conceição FM 105.9/ celio.furtado@univali.br