Inflação pesa sobre acumulação de ativos no Brasil

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   A oitava edição do Relatório de Riqueza Global do Grupo Allianz. O estudo analisa a situação de ativos e dívidas das famílias de mais de 50 países em 2016. O Brasil ocupou o 41º lugar, com 4.980 euros de ativos financeiros líquidos per capita e ficou atrás do México, mas ainda está à frente da Colômbia e Peru. Os ativos financeiros brutos dos brasileiros cresceram em torno de 12%, atingindo aproximadamente 1,7 trilhão de euros. Após a dedução da taxa média da inflação de quase 9%, as famílias tiveram um crescimento bem modesto.


Em termos mundiais, os ativos financeiros cresceram 7,1% em 2016, em comparação a 2015, e atingiram recorde de 170 trilhões de euros. Já os passivos aumentaram 5,5%, a taxa mais alta desde 2007. Apesar da elevação substancial da dívida, os ativos financeiros líquidos – que são os ativos financeiros brutos menos a dívida – alcançaram a marca inédita de 125 trilhões de euros no final de 2016.


A aceleração do crescimento de 2016 veio principalmente de países industrializados, onde duplicou e atingiu a marca de 5,2%. A Ásia (excluindo o Japão) foi mais uma vez a líder, com um crescimento de 15%. A América Latina obteve elevação de apenas 5%, o que ainda assim é mais que o dobro das taxas de crescimento na América do Norte (+2,1% de crescimento readesde 2006) e na Europa Ocidental (+1,4%),


  • Crescimento dos ativos financeiros ultrapassou 7%
  • Depósitos bancários mantêm popularidade, apesar das perdas reais devido à inflação
  • Dívida cresce mais rápido que o resultado econômico pela primeira vez desde 2009
  • Crescimento de ativos no Brasil atinge dois dígitos – antes de deduzida a inflação
  • Distribuição da riqueza global se iguala lentamente – um elefante sem tromba

O Grupo Allianz divulgou a oitava edição do seu relatório sobre a riqueza global (em inglês, “Global Wealth Report”), que examinou em detalhes a situação de ativos e dívidas das famílias em mais de 50 países em 2016. Do ponto de vista político, foi um ano muito turbulento. No entanto, as fortunas privadas minimizaram esse aspecto: após um 2015 mais fraco (+4,7%), os ativos financeiros voltaram a crescer 7,1% em 2016, mais ou menos igualando a média observada após a crise de 2008. Em termos mundiais, os ativos financeiros atingiram um novo recorde, de quase 170 trilhões de euros.

 

Bolsas puxam o crescimento, mas poupadores preferem depositar seu dinheiro em bancos

O bom desempenho de 2016 se deveu, em grande parte, à corrida de final de ano nas Bolsas, especialmente em países industrializados. Quase 70% do crescimento de ativos de 2016 foram atribuídos a mudanças no valor das carteiras. Apenas 30% se deveram a poupanças originais, ao contrário do que se viu em 2015. A composição das novas poupanças é bastante surpreendente. Os poupadores privados venderam mais títulos do que compraram, porém, colocaram até dois terços de novos fundos nos bancos – o que representa uma nova alta recorde. “O comportamento poupador dos investidores privados ainda se mostra decididamente avesso a riscos”, comentou Michael Heise, economista-chefe do Grupo Allianz.  “Enquanto os ativos financeiros cresceram ao longo dos últimos anos, sobretudo graças ao bom desempenho dos mercados de valores, o dinheiro novo é colocado principalmente em contas bancárias e em países industrializados. Aqui, no entanto, eles não deixam apenas de gerar retorno, como ainda sofrem perdas reais. Só em 2016, estima-se que os poupadores tenham perdido em torno de 300 bilhões de euros devido à inflação. Em 2017, com a inflação em ascensão, esse número pode duplicar. E na maioria dos mercados emergentes a situação não é muito melhor, com menos de 20% dos ativos financeiros estimados para serem investidos em produtos seguros e de longo prazo. Há uma necessidade generalizada de ação. A digitalização pode ser a chave para melhores processos de investimento”

Ásia cresce com taxas que são, de longe, as mais aceleradas

A aceleração do crescimento em 2016 veio principalmente de países industrializados, onde duplicou e atingiu a marca de 5,2%. A Ásia (excluindo o Japão) foi mais uma vez a líder inconteste em 2016, com um crescimento de 15%; os ativos financeiros no Leste Europeu aumentaram 7,9%. Também em uma comparação de longo prazo, a Ásia (excluindo o Japão) é a região dominante, especialmente quando também levada a inflação em conta. Os ativos financeiros brutos per capita na Ásia (excluindo Japão) subiram em termos reais quase 11% ao ano na última década. As outras duas regiões emergentes, América Latina e Leste Europeu, obtiveram elevação de apenas 5%, o que ainda assim é mais que o dobro das taxas de crescimento na América do Norte (+2,1% de crescimento real desde 2006) e na Europa Ocidental (+1,4%). Por conseguinte, essas três regiões — América Latina, Leste Europeu e Ásia (excluindo Japão) responderam por pouco menos de 23% dos ativos financeiros brutos mundiais em 2016. Essa proporção mais do que duplicou nos últimos dez anos. Os mercados emergentes têm um peso ainda maior quando se trata do avanço de ativos, com 42% do crescimento atribuível a esse grupo de países na última década. No entanto, isso se deve em grande medida ao desenvolvimento na China que, sozinha, respondeu por cerca de 30% do crescimento mundial desde 2006.

Dívida cresce mais rápido do que a economia

O passivo global das famílias aumentou 5,5% em 2016, a taxa mais alta desde 2007. Isso significa que a dívida também avançou mais rápido do que os resultados econômicos nominais pela primeira vez desde 2009 e o índice de endividamento mundial aumentou quase 1 ponto percentual, atingindo 64,6%. O quadro variou amplamente entre as regiões. O crescimento acelerou levemente – a partir de um nível moderado – na Europa Ocidental, no Leste Europeu e na América do Norte. A América Latina vivenciou um declínio maior no crescimento. Na Ásia (excluindo o Japão), por outro lado, o crescimento da dívida subiu acentuadamente com mais 4 pontos percentuais, chegando a pouco menos de 17%; no topo ficaram as famílias chinesas, que ampliaram seus passivos em vertiginosos 23%. Isso significa que essa região é responsável por quase 20% dos passivos privativos mundiais que totalizam pouco menos de 41 trilhões de euros, comparado a menos de 7% há dez anos . “A situação do endividamento na China deveria ser monitorada de perto”, comentou Michaela Grimm, coautora do relatório. “Embora a taxa de endividamento das famílias ainda não esteja na zona de perigo, a dinâmica é alarmante: o índice saltou 17 pontos percentuais nos últimos cinco anos e quase seis pontos somente em 2016 – ambos são números que se destacam em termos mundiais. Apenas para comparar, nos cinco anos que antecederam a grande crise financeira de 2008, o índice de endividamento nos EUA aumentou cerca de 20 pontos percentuais. As autoridades chinesas deveriam tomar cuidado para não cometerem o erro de achar que a China estará imune a uma crise financeira – contramedidas oportunas seriam bem melhor.”

Apesar do aumento substancial da dívida, os ativos financeiros líquidos – que são os ativos financeiros brutos menos a dívida – alcançaram um novo recorde mundial, de 125 trilhões de euros no final de 2016. Isso representa um aumento de 7,6% face ao ano anterior. Embora isso esteja ligeiramente abaixo da média para os anos desde a crise, ainda assim está bem acima do crescimento de 4,8% de 2015. Em contraste, no Leste Europeu o crescimento dos ativos financeiros líquidos desacelerou para 9,7%.

Inflação pesa sobre acumulação de ativos no Brasil

O crescimento nos ativos financeiros das famílias brasileiras se recuperou e chegou a 19,5% em 2016 – bem mais rápido do que nos três anos anteriores, nos quais a média foi de 6%. Essa aceleração pode ser atribuída a dois fatores: primeiro, os passivos expandiram apenas cerca de 3% – bem abaixo da média no longo prazo que era de aproximadamente 13% ao ano desde 2006. À medida que o resultado econômico nominal superava o crescimento da dívida, a razão dívida-PIB baixou quase um ponto percentual, para 38,5%. Contudo, o endividamento privado no país segue bem acima da média regional de quase 29%. Em segundo lugar, as famílias, que detêm quase metade de seus ativos sob a forma de ações, fundos e outras participações acionárias, se beneficiaram do forte crescimento das Bolsas. As detenções de valores mobiliários tiveram um aumento substancial estimado em 17%, enquanto os recebíveis provenientes de seguradoras e fundos de pensão também tiveram crescimento de dois dígitos na esteira dos mercados de ações. Contrastando com isso, os depósitos bancários ficaram mais ou menos estagnados pelo segundo ano consecutivo, refletindo a crise econômica em curso. Mesmo assim, os ativos financeiros brutos dos brasileiros cresceram em torno de 12%, atingindo aproximadamente 1,7 trilhão de euros, o que representa cerca de metade de todos os ativos da região. Após a dedução da taxa média da inflação de quase 9%, no entanto, as famílias tiveram um crescimento bem modesto.

Brasil em 41o. lugar

O Brasil ficou em 41º lugar no ranking mundial dos países mais ricos, mantendo a classificação do relatório referente ao ano de 2015 (para os ativos financeiros líquidos per capita, ver tabela dos “Top 20”). Com 4.980 euros de ativos financeiros líquidos per capita, o Brasil está atrás do México, mas ainda à frente da Colômbia e Peru. Para alcançar o Chile (16.460 euros per capita em média), país que tem as famílias mais ricas da região, os brasileiros ainda têm muito caminho pela frente. No topo da lista ocorreu uma troca da guarda em 2016, com os EUA tomando o lugar da Suíça (por uma margem estreita). De resto, a lista dos mais ricos permanece a mesma, com os países escandinavos e asiáticos dominando o cenário.

Distribuição da riqueza global se iguala lentamente

A evolução na distribuição da riqueza global desde a virada do milênio tem sido definida por um fenômeno em particular: o crescimento galopante da classe média da riqueza global[2] .

O número de pessoas pertencentes a essa categoria mais do que duplicou durante esse período, passando de cerca de 450 milhões em 2000 para mais de 1 bilhão atualmente. A grande maioria dos que migrou provém da classe mais baixa de riqueza, totalizando quase 600 milhões de pessoas, que deram esse salto desde 2000. No entanto, se olharmos a nacionalidade dos que subiram de degrau, vemos que 80% deles são chineses; somente 6% são do Leste Europeu. Portanto, a duplicação da classe média da riqueza global reflete, basicamente, a ascensão da China.

A despeito da emergência de uma nova classe média da riqueza global, o mundo como um todo ainda está muito longe de uma distribuição “equitativa” da riqueza. Se dividirmos a população dos países que foram analisados em decis da população mundial com base nos ativos financeiros líquidos per capita, fica claro que os 10% mais ricos do mundo detêm, em conjunto, 79% dos ativos financeiros líquidos. Mesmo assim, a concentração da riqueza ainda se elevava a 91% em 2000.

 O elefante não tem tromba

Esses decis de riqueza global podem ser usados para recriar o chamado “gráfico-elefante”, que mapeia o crescimento da renda para cada percentil da população mundial, em termos de crescimento de ativos. É impossível não notar as similaridades em relação ao gráfico original. Especialmente as famílias na porção média superior da distribuição da riqueza global – aspirantes à classe média em países emergentes – se beneficiaram do crescimento dos ativos nos últimos anos. Porém, há uma diferença gritante na extremidade superior da pirâmide da distribuição. O crescimento decresce consideravelmente no décimo decil, aquele dos 10% com os maiores ativos financeiros líquidos per capita. “O elefante não tem tromba”, declarou Heise. “Em contraste com a situação da renda, os ativos estão crescendo mais devagar na extremidade superior da escala do que no meio. No que se refere a uma distribuição de riqueza mais igualitária, essa é uma boa notícia. Contudo, é preciso não ter ilusões sobre um ‘mundo justo’. No decil superior os ativos financeiros líquidos médios per capita superam a marca de 200 mil euros; o 1% mais rico da população mundial possui em média ativos financeiros líquidos pouco acima de 900 mil euros. Pobres e ricos ainda são mundos completamente distintos e distantes.


Bianca Bordignon- Virta