
O cineasta David Schurmann é um produtor de sucesso no mercado nacional e internacional uma de suas produções chegou a ser iniciada para disputar uma vaga o na seleta lista de concorrente ao Oscar com O filme “Pequeno segredo”, de David Schurmann, foi indicado pelo Brasil. Schurmann que acompanhou os pais nas primeiras expedição agora vai para a televisão nacional através do National Geographic – com a produção Expedição Oriente”. David Schurmann fala a respeito do projeto e deste novo momento que todos os Schurmann estão vivendo.
Por que investigar esta teoria é tão interessante?
Em nossa segunda expedição, seguimos a esteira de Fernão de Magalhães. Estudamos a fundo sua história e uma coisa nos intrigou. Magalhães suspeitava que houvesse uma rota para as ilhas das especiarias via uma passagem ao sul das Américas. Ele argumentava que detinha um mapa que provava a existência deste canal. Veio então nossa curiosidade: como ele teve acesso a essa informação, que não era mencionada em nenhum documento oficial?
Em 2002, Gavin Menzies, um oficial da Marinha inglesa, publicou uma tese que poderia fornecer a resposta para essa pergunta. No livro “1421: o ano em que a China descobriu o mundo”, Menzies apresenta pesquisas que o levaram à origem desses mapas e expõe sua teoria de que os chineses foram os precursores das viagens de descobrimentos, utilizando “avançados instrumentos” com know how de cálculo de latitude e longitude.
A tese reza que, em 1421, a maior esquadra com gigantescos juncos de até 150 metros de comprimento zarpou da China. Os navios eram capitaneados pelos leais almirantes do Imperador Zhu Di. Sua missão era “seguir até os confins da terra para recolher tributos dos bárbaros de além-mar”. Na jornada de dois anos, os navios chineses teriam aportado na América 70 anos antes de Colombo, circunvagado o globo um século antes de Magalhães, descoberto a Antártica, chegado à Austrália 320 anos antes de Cook e descoberto a longitude 300 anos antes dos europeus.
Polêmica, a tese também é fascinante e inspiradora! Então, por que não traçar a rota de uma nova aventura, inspirada nessa teoria que nos estimularia a ter um novo olhar para lugares que já conhecíamos, mas também nos levaria para destinos inéditos, como a própria China? Então, inspirados neste suposto fato histórico, planejamos e realizamos a Expedição Oriente, que retraça parte das rotas chinesas. Sim, não foi apenas uma rota, foram diversas rotas navegadas pelos juncos chineses e nós fomos ao encalço de algumas delas.
O que diferencia esta viagem das outras já feitas?
Para a Expedição Oriente construímos um novo veleiro, o Kat (uma homenagem à nossa “estrelinha” Kat Schurmann), um projeto ousado que foi construído no Brasil, reunindo elementos de alta tecnologia, inovação e sustentabilidade. Dentro de um espaço relativamente pequeno, apresentamos ao Brasil e ao mundo soluções inteligentes de sustentabilidade, entre elas, sistema de geração de energia limpa, por meio de eólicos, painéis solares e hidro geradores; compactador de lixo reciclável; sistema de tratamento de esgoto; reaproveitamento de lixo orgânico com equipamento de compostagem para produção de adubo, e uma horta orgânica a bordo. Se o projeto parecia ideal, na prática, o veleiro Kat superou todas as expectativas: navega muito bem e rápido; tem muita estabilidade; e é forte e seguro, com um cockpit grande que permite manobras de vela e no leme com mais segurança.
Essa foi uma viagem mais sustentável por termos equipamentos a bordo, como os mencionados acima.
Com a Expedição Oriente, também tivemos, pela primeira vez em mais de 30 anos de aventuras, a presença de um representante da terceira geração da nossa família entre os tripulantes. O filho do Pierre, Emmanuel Schurmann superou desafios pessoais e, aos 20 e poucos anos, deu a volta ao mundo a bordo do veleiro Kat ao nosso lado. Mas o Sebastian (também filho do Pierre) e o Kian (meu filho) também aproveitaram as férias, respectivamente, da faculdade e do colégio para integrarem nossa tripulação, participando das tarefas do dia a dia e curtindo muitas aventuras no mar e na terra. Meus pais, como avós, ficaram felizes em ver a herança marinheira passando para as próximas gerações.
Para completar o quadro com as principais diferenças, a Expedição Oriente nos levou para lugares até então inéditos. Pela primeira vez, estivemos na deserta, gelada e branca Antártica e também na populosa, cosmopolita e colorida China. Realidades distintas e contrastantes, mas, ambas, fascinantes. Vale registar que, de acordo com nossas pesquisas, nosso Kat foi o primeiro veleiro brasileiro a atracar em um porto chinês. Nos últimos 5 anos, apenas 10 veleiros estrangeiros conseguiram permissão para ancorar em Xangai.
Conseguiram encontrar alguma evidência que comprove esta teoria?
Na série “Expedição Oriente”, o público do canal National Geographic terá a oportunidade de conhecer os dois lados. Pela primeira vez, exibiremos trechos dos nossos encontros com professores, estudiosos teoristas e apaixonados pela teoria.
Embora nós não tenhamos pretensões científicas, nos deparamos com indícios capazes de ressaltar, no mínimo, que os chineses foram, de fato, grandes navegadores. Registros oficiais na China mostram, por exemplo, que os chineses navegaram até a costa da África. Em Xangai, estivemos com um advogado chinês, proprietário de uma das maiores bancas de advogados tributaristas da China. Ele veio a bordo do veleiro Kat e nos mostrou um mapa antigo com desenho das Américas do Sul e do Norte, da Antártica e da Oceania.
Fora da China, na Ilha de Páscoa, nos impressionamos com um único Moai, ajoelhado, com formas redondas e traços orientais, que poderia ser uma possível evidência da presença dos chineses por lá, séculos atrás. Movidos pela curiosidade, durante a Expedição Oriente, encontramos duas correntes opostas: a que afirma que sim, os chineses desbravaram o mundo antes dos europeus, e a contrária, baseada em dados e registros históricos. Na série, claro, apresentamos os dois lados.
Qual foi o fato mais marcante durante a viagem?
Difícil destacar um único fato. Passamos por cerca de 50 lugares diferentes e cada um nos presenteou com uma experiência marcante, seja pelo ineditismo, isolamento, natureza, beleza, cultura, pessoas etc. Mesmo assim, o momento mais marcante da Expedição Oriente foi a chegada em Xangai. Foi histórico. De acordo com as nossas pesquisas, Kat foi o primeiro veleiro brasileiro a aportar na China, entrando no país pelo maior porto do mundo, onde passam mais de 1 mil embarcações todos os dias. A China foi a fonte de inspiração da aventura e um destino até então inédito para a gente. Lá, encontramos uma cultura milenar e, ao mesmo tempo, adaptada para os tempos modernos.
Como foram os preparativos para esta viagem?
Antes de içarmos as velas e zarparmos de Itajaí, Santa Catarina, tivemos cerca de dois anos dedicados à preparação da Expedição Oriente. Nesse período, nos dedicamos às pesquisas, planejamento da rota, captação de recursos junto aos patrocinadores do projeto (Estácio, HDI Seguros e Solví), recrutamento e preparação de tripulação multidisciplinar, seguir com todos os trâmites necessários para emigrar para dezenas de países e a construção do veleiro Kat (um projeto sem referências no Brasil), entre outros detalhes importantes para uma aventura dessa proporção.
Quais os cuidados com as questões sustentáveis?
Como mencionado anteriormente, com o veleiro Kat, apresentamos ao Brasil e ao mundo soluções inteligentes de sustentabilidade, entre elas, sistema de geração de energia limpa, por meio de eólicos, painéis solares e hidro geradores; compactador de lixo reciclável; sistema de tratamento de esgoto; reaproveitamento de lixo orgânico com equipamento de compostagem para produção de adubo, e uma horta orgânica a bordo. E esse tipo de cuidado, preocupação, se faz cada vez mais necessário. Nosso planeta pede socorro!
Com a Expedição Oriente, navegamos cerca de 30 mil milhas (o equivalente a quase 50 mil quilômetros), passando por quatro oceanos do planeta. Nossa embarcação serviu como base de apoio para estudo do Departamento de Oceanografia Biológica da USP com análises da qualidade das águas do planeta, a partir de amostras coletadas – e devolvidas – nos locais navegados. Em breve, os pesquisadores devem revelar os resultados, mas adiantamos: nas costas da China, do Vietnã e da Indonésia, o mar está bem poluído. E, infelizmente, este não é um fato isolado.
O grande problema é a quantidade de plásticos presentes nos mares, que está colocando em risco toda a vida marinha. Na chegada a Jacarta, testemunhamos a matança de milhares de peixes, vítimas de produtos químicos despejados pela indústria – situação mais séria em toda a Ásia. Até em pequenas ilhas isoladas do mundo, a quantidade de plásticos, vindos de várias partes, surpreendeu.
Também precisamos destacar outros sinais que reforçam que o planeta pede socorro. No glaciar Pio XI, no Chile, depois de 17 anos da nossa primeira passagem por lá, houve um degelo assustador! Onde existiam torres de gelo de 30 metros à beira mar, hoje, surgiu uma praia de areias negras vulcânicas. As torres estão afastadas a mais de 300 metros.
Mas, entre situações lamentáveis e preocupantes, encontramos também alguns motivos de esperança, como os exemplos de cuidado consciente com o meio ambiente, por parte dos governos e da população da Austrália, da Nova Zelândia e da Polinésia Francesa.
Quais as maiores dificuldades enfrentadas ao longo da viagem?
Não sei se seriam as maiores “dificuldades”, mas, talvez, os maiores “desafios”. Como mencionamos, o veleiro Kat superou todas as expectativas. Na passagem de Drake, quando fomos e voltamos da Antártica, ele foi fenomenal, suportando ondas de 6 metros de altura pelo través, que se chocavam no casco com fortes estrondos. Também na navegada da Ilha Reunion até a África do Sul, com ventos fortes do quadrante sul e corrente das agulhas contrárias de norte para o sul, formaram ondas cavadas de 4 a 5 metros de altura. O veleiro Kat subia e, no vácuo, com suas 85 toneladas, caia provocando um estremecimento em toda sua estrutura de aço. Nesses dois momentos, comprovamos que temos uma embarcação segura para grandes travessias.
Pensaram em desistir em algum momento? Se sim ou não, por que?
Não! De jeito nenhum! Tempestades e desafios existem, sempre existiram e continuarão existindo. E, para nós, não são motivos para desistência, mas sim estímulos para superação. E assim seguimos adiante.
O que o público pode esperar?
Uma história incrível e cativante, imagens lindíssimas que já são tradição da Família Schurmann, momentos emocionantes, aventura, mistério, cultura, diversão e entretenimento. Foram mais de 2 anos de viagem e uma oportunidade de conferir de perto a diversidade cultural, religiosa, ambiental, comportamental etc. Somos muitos no planeta e temos muitas diferenças, experimentar e respeitar essas diferenças é gratificante. E mais gratificante ainda é poder compartilhar isso com o público.