Portugal: Empresário Jorge Noras cria boias que vai ganhar destaque na Volvo Ocean Race

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A U-SAFE foi inventada pelo empresário Jorge Noras e será produzida na nova fábrica de Torres Vedras. Em 2019 ganha destaque na Volvo Ocean Race.

Quando forem lançadas ao mar, as novas embarcações em estreia na edição de 2019/2020 da Volvo Ocean Race exibirão em grande destaque, na proa, uma invenção tecnológica 100% portuguesa. Trata-se da boia telecomandada U-SAFE, fruto da imaginação e do engenho do empresário e self made man Jorge Noras. Será assim a primeira vez na história desta competição de topo que a elite mundial de velejadores poderá contar com um novo dispositivo de segurança a bordo: uma boia portuguesa com tecnologia de última geração, que segue viagem presa ao casco e, em caso de naufrágio ou queda acidental de um dos membros da tripulação, pode ser acionada por controlo remoto e guiada por GPS até ao náufrago, para um salvamento marítimo mais rápido e eficaz.

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Para que este cenário possa tornar-se realidade, a novíssima fábrica da Noras Performance (uma empresa de capitais nacionais) vai ser inaugurada já na próxima segunda-feira, 1 de maio, em Torres Vedras, com a presença do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e de representantes internacionais da Volvo Ocean Race, para a assinatura do protocolo de colaboração. Com um investimento total de 10 milhões de euros, provenientes de fundos comunitários do Portugal 2020 e empréstimos à banca, será desta unidade fabril situada na região Oeste que sairão em breve as primeiras boias telecomandadas U-SAFE, à imagem e semelhança do protótipo construído pelo próprio Jorge Noras com capitais próprios.

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Prometendo revolucionar o modelo de boia salva-vidas ainda em vigor, inventada por um empreendedor britânico de seu nome Spencer, em 1765, a portuguesa U-SAFE é uma boia controlada remotamente, capaz de efetuar salvamentos em condições extremas de ondulação, que pode atingir uma velocidade de 15 nós (25 km/h) para chegar rapidamente junto do náufrago e regara-lo em segurança. Perfeitamente simétrica, desloca-se em qualquer posição e pode ser lançada ao mar a partir de terra, de embarcações ou mesmo aeronaves.

“A partir de agora queremos produzir o máximo número de boias possível. Esta fábrica foi projetada para uma produção, em velocidade de cruzeiro, em 2019, de 2400 boias por ano. Mas isso nem dá para uma ínfima parte do interesse que já nos foi manifestado. Mesmo com três turnos e uma produção de 6000 ou 7000 boias, não chegaria para a enorme procura. Se eu neste momento tivesse 100 mil boias, estavam vendidas”, contou Jorge Noras em entrevista ao Dinheiro Vivo, durante uma visita à fábrica de Torres Vedras onde já se podem ver alinhadas as primeiras unidades das boias U-SAFE. –

Desde que a ideia original surgiu na mente do empresário de 53 anos, em 2012, até à sua produção em massa, passaram cinco anos. Pelo caminho ficaram os protótipos, o registo da patente da invenção em 68 países, em 2013, a homologação por parte do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) e a parceria com o Ministério da Defesa, a candidatura ao IAPMEI para a construção da fábrica (que ficou pronta em metade do tempo previsto – um ano em vez de dois) e a manifestação de interesse por parte da Volvo Ocean Race, apenas uma entre mais de 60 intenções de compra e parceria comercial que a Noras Performance já recebeu de todos os cantos do mundo.

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“É bom ter muito interesse, mas agora tenho um grande problema. É complicado estar a inaugurar uma fábrica e ela já estar obsoleta em termos de capacidade de produção. Não tinha dúvidas que isto ia acontecer, por isso otimizei todo o processo porque tinha noção da dimensão do mercado e sabia que ia ter muita procura”.

A solução para o excesso de procura e escassez de oferta do seu produto inovador, diz imediatamente, passa pela abertura de uma outra unidade de produção de componentes, também em Torres Vedras, e por novas fábricas de montagem final da boia espalhadas pelo mundo. A ambição é inaugurar uma nova fábrica na Austrália já no próximo ano, seguindo-se depois uma outra nos Estados Unidos. –

“Este é um equipamento que nunca foi feito antes e nenhuma das peças da boia existe à venda no mercado. Para já vai ser tudo produzido cá em Portugal, mas não chega para o mundo inteiro. Para atingir uma maior escala, as novas fábricas serão dedicadas à montagem de componentes, controlo de qualidade e embalagem”, idealiza Jorge Noras, revelando em primeira mão ao Dinheiro Vivo o interesse recente da Sony e da LG, dois dos quatro grandes fabricantes mundiais de células para baterias de lítio de última geração, em trabalhar de perto com a Noras Performance e fazer parte do processo produtivo da U-SAFE.

Antes de chegar ao mercado e começar a ser vendida por um preço unitário de 6.000 euros, a U-SAFE será formalmente apresentada no próximo dia 4 de novembro, durante a escala em Lisboa da próxima edição da Volvo Ocean Race, que começa a 22 de outubro em Alicante (Espanha) e termina em Haia (Holanda) em junho de 2018. Ao longo de oito meses e 83.340 quilómetros, a U-SAFE acompanhará o roadshow da corrida, dando-se a conhecer ainda mais a potenciais compradores e investidores. Jorge Noras conta com orgulho que foi no início de 2016 que os responsáveis da competição de vela com maior destaque a nível mundial perceberam o potencial da boia telecomandada portuguesa e bateram à sua porta com uma proposta. “A Volvo é que nos procurou e propôs parceria tecnológica para equipar as novas embarcações com equipamentos de busca e salvamento, além de outros desenvolvimentos futuros”, conta o empresário.

Apesar das muitas ofertas que já recebeu de investidores internacionais, garante: “Não estou interessado em vender o negócio. Enquanto conseguir, vou caminhar sozinho para chegar ao ponto que eu acho correto. Até agora a boia era só uma ideia, agora é uma realidade. Vamos pôr a fábrica a gerar dinheiro”.

Com a mente sempre a fervilhar com novas ideias, Jorge Noras tem já planos para novas invenções e desenvolvimento do modelo U-SAFE. A começar por uma nova versão lowcost e um outro modelo otimizado para salvamentos em praias. “Pretendo produzir, no mais curto espaço de tempo possível, uma boia muito mais barata a custar até 1000 euros, para vender em massa para barcos de pesca e navios de cruzeiro” revelou o empresário, que na segunda-feira irá assinar novos protocolos com o ISN português – “de investigação e desenvolvimento tecnológico para novos modelos” – e com entidades semelhantes de outros países, que têm mostrado interesse em experimentar a boia nas suas operações.

“Iremos ceder temporariamente alguns equipamentos para serem experimentados e que nos serão devolvidos”. É o caso da Austrália, onde vão ser efetuados testes de salvamento na proximidade de tubarões, e de países nórdicos, no contexto de águas geladas. “Há uma série de coisas que eu ainda gostava de fazer. Mas a prioridade agora é pôr a U-SAFE a caminhar pelos seus próprios meios”, conclui Jorge Noras.




 

Fonte: https://www.dinheirovivo.pt/empresas/u-safe-se-tivesse-100-mil-boias-estavam-vendidas/